A emancipação feminina deu passos importantes este ano, especialmente na
política, mas ainda não é capaz de modificar as relações de poder nas
universidades brasileiras. As mulheres já superaram os homens em número
de estudantes e até doutores
, mas a paridade em cargos de chefia ainda está longe de ser realidade.
Mesmo à frente das salas de aulas, elas estão em desvantagem em relação
aos homens.
Dados do Ministério da Educação mostram que, na educação básica, há
muito mais professoras do que professores. A diferença é imensa. Do
total de 2 milhões de professores identificados pelo Censo Escolar em
2010, 80% eram do sexo feminino. Curioso é que, mesmo assim, elas não
são maioria entre os docentes da educação profissional. Território de
mais “prestígio” na educação básica – onde os salários são mais altos e a
estrutura de trabalho, melhor – tem 54% de seus 62 mil professores do
sexo masculino.
No ensino superior, as diferenças se repetem. Apesar de as jovens
brasileiras estarem em maioria entre os universitários – 3 milhões entre
os 5,4 milhões de estudantes – e entre os doutores – desde 2004, as
mulheres superaram os homens no doutorado e 51,5% do total –, elas são
menos numerosas que os homens nos cargos de docente. Dos 345 mil
professores universitários em exercício no ano passado, de acordo com o
Censo da Educação Superior
, 154 mil eram mulheres.
A proporção de 45% de mulheres nesses postos em todos os tipos de
instituição – universidade, centro universitário, faculdade – só não se
repete nos institutos federais de tecnologia, onde elas representam 37%
do efetivo de docentes. Para os estudiosos das diferenças de gênero em
postos de trabalho, a desigualdade entre homens e mulheres ainda se dá
porque há discriminação no ambiente acadêmico e científico e por causa
dos papéis domésticos, muito mais assumidos pelas mulheres.
José Eustáquio
Diniz Alves, doutor em demografia e professor do mestrado em Estudos
Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas do IBGE, ressalta que as mulheres vivem mais que os homens,
os ultrapassaram no nível educacional e na quantidade de eleitores.
“Houve um grande avanço, mas que não se traduziu na ocupação dos espaços
de poder. A primeira razão é a divisão sexual do trabalho.
Culturalmente, as mulheres se responsabilizam mais pelo trabalho
doméstico e sobra menos tempo para elas investirem na carreira”,
comenta.
Mas não é só isso. Na avaliação de Marlise Matos, professora do Departamento de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos sobra a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ambiente acadêmico é discriminatório. “Existe um mito de que a ciência e a academia são lugares isentos. É fundamental que a gente compreenda que esses campos são políticos, lugares de disputa de poder. E, por isso, ele reflete o contexto social no qual está inserido: uma sociedade patriarcal, machista, racista e heterossexista. Não vamos encontrar mulheres, negros e homossexuais em postos de grande importância”, diz.
Mas não é só isso. Na avaliação de Marlise Matos, professora do Departamento de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos sobra a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ambiente acadêmico é discriminatório. “Existe um mito de que a ciência e a academia são lugares isentos. É fundamental que a gente compreenda que esses campos são políticos, lugares de disputa de poder. E, por isso, ele reflete o contexto social no qual está inserido: uma sociedade patriarcal, machista, racista e heterossexista. Não vamos encontrar mulheres, negros e homossexuais em postos de grande importância”, diz.
Ângela Maria Paiva Cruz, 56 anos, é uma das poucas mulheres que
conseguiu chegar ao posto máximo em universidades brasileiras. Para
Ângela, a desvalorização do trabalho feminino é revelada pelos números e
pela própria história da academia. Em 53 anos de história da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ela foi a primeira
mulher eleita para a reitoria da instituição. “Nunca senti preconceito,
mas falta estímulo para que as mulheres assumam esses cargos de chefia,
por uma questão cultural mesmo”, avalia.
Há menos de um ano no posto, Ângela procurou aumentar os espaços das mulheres nos postos de liderança. Ela, que já foi vice-reitora, mantém paridade entre homens e mulheres na direção de departamentos, pró-reitorias e coordenações. “As mudanças na sociedade são muito lentas. Temos que criar mecanismos mesmo”, destaca.
Quebrando barreiras
Há menos de um ano no posto, Ângela procurou aumentar os espaços das mulheres nos postos de liderança. Ela, que já foi vice-reitora, mantém paridade entre homens e mulheres na direção de departamentos, pró-reitorias e coordenações. “As mudanças na sociedade são muito lentas. Temos que criar mecanismos mesmo”, destaca.
Quebrando barreiras
Para Marlise, a conquista da educação pelas mulheres foi tão importante quanto o direito ao voto. Mas as mudanças em todos os setores das universidades ainda levarão mais tempo para ocorrer. “Elas foram para o processo escolar em arenas segmentadas, se dirigindo para as profissões do cuidado. Isso porque o mundo privado sempre foi das mulheres e o público, dos homens. A quantidade não muda a qualidade. Somos mais de 50% da população e são as mulheres que socializam seus filhos. No entanto, essas relações não mudaram. As relações patriarcais e machistas não são patrimônios dos homens”, analisa.
Fonte: ultimo segundo
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