Por Luanda Lima
Nos últimos dias, dois casos colocaram em pauta o
machismo velado ao falar sobre mulheres em posição de liderança. Em ambos os fatos,
o foco foi estereótipos de figuras femininas criada como emocionalmente instáveis. A primeira polêmica veio à tona com a
divulgação da reportagem de capa de uma revista.
O material argumenta que a Presidenta Dilma Rousseff
estaria “fora de si” e com “problemas emocionais”. Depois do caso da
presidenta, viralizou nas redes sociais um vídeo em que a jurista Janaína
Paschoal, coautora do pedido de impeachment que está sendo analisado na Câmara dos
Deputados, critica o governo federal em um discurso na Universidade de São
Paulo (USP).
De imediato, uma palavra veio à tona para classificar tanto
o enfoque dado pela reportagem quanto aos críticos à fala da advogada: gaslighting.
O termo surgiu com o longa-metragem americano À Meia-Luz (no título original
Gaslight), de 1944, no qual um homem tenta fazer sua esposa pensar que
enlouqueceu.
O gaslighting pode acontecer tanto em um relacionamento,
quanto com mulheres que fazem parte da vida pública e são criticadas em relação
a sua saúde mental, quando temos uma série de exemplos de homens na política
que agem de maneira similar e não têm a sua sanidade questionada. Quando é uma
mulher e ela age de uma maneira ou ocupa um espaço que a sociedade não espera,
vai ser agredida pessoalmente, muito além de seu trabalho”, diz Luíse Bello, da
ONG Think Olga.
Esse tipo de violência emocional, portanto, consiste na
manipulação psicológica que leva a mulher e as pessoas à sua volta pensarem que
ela perdeu a sanidade ou é incapaz. Com relatos falsos sobre o que aconteceu e
frases como “você está exagerando”, “isso nunca aconteceu”, “você é muito
sensível” ou “você está louca”, a memória e a percepção da vítima são postas em
dúvida.
Além do gaslighting, outros termos foram criados para
fazer referência às maneiras usadas frequentemente para inferiorizar ou
silenciar mulheres. Um deles é bropriating, junção de bro (forma
inglesa curta para brother, ou seja, irmão), e appropriating (apropriação),
se relacionando a situações em que um homem se apropria das ideias de uma
mulher e leva crédito por elas, por exemplo, durante uma reunião de trabalho.
Ativistas citam também o manterrupting, união de man (homem)
e interrupting(interrupção), quando uma mulher não consegue
concluir uma frase porque é constantemente interrompida pelos homens em volta.
Há também a prática conhecida como mansplaining, quando um homem
explica didaticamente algo óbvio, como se a mulher não fosse dotada de
compreensão ou conhecimento sobre o assunto. O termo também se refere a
situações em que o homem tenta desacreditar a mulher sobre algo a respeito de
que ela esteja certa.
“O machismo também se manifesta de maneiras sutis,
reproduzidas inconscientemente e com os quais as mulheres se acostumam. Não é
porque um homem pratica esse tipo de comportamento que está fazendo de
propósito, porque quer roubar uma ideia ou calar uma mulher, mas porque a
mulher é colocada em uma situação de inferioridade social e ele se sente
naturalmente no direito de falar por cima dela, de achar que é obrigação dela
ter o cuidado com o café no escritório”, diz Luíse. ”A gente tem que parar de
fingir que isso não acontece ou não é uma questão de gênero”. Para a
publicitária, é fundamental refletir sobre atitudes como essas e combatê-las
com propostas, “com uma mudança de comportamento e uma conscientização dos
homens e das mulheres para que isso não se repita”.
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