quarta-feira, 6 de abril de 2016

Aplicativo Traz em Roteiro Turístico Herança Africana em Bairro do Rio

Cais do Valongo, na regioão central da cidade (tomaz Silva/Agência Brasil)
Por Isabela Vieira 
Caminhar pela região batizada pelo músico e artista plástico Heitor dos Prazeres como Pequena África, no Rio de Janeiro, é se deparar com referências à chegada de africanos escravizados e à contribuição de seus descendentes para a cultura do país. Para facilitar a identificação dos pontos existentes, está disponível um aplicativo para telefones celulares com informações sobre 18 pontos, resultado do projeto Passados Presentes – Memória da Escravidão no Brasil. Em forma de roteiro turístico, os locais mapeados estão marcados com ícones e imagens no aplicativo que traz informações históricas e pode ser baixado gratuitamente (disponível para Android).

O primeiro dos 18 pontos é o Mercado de Escravos da Prainha. É ali que ficava o barracão com africanos traficados e disponíveis para compra, no período colonial, retratado em pinturas do artista alemão Johann Moritz Rugendas. Próximo, estão o Cais do Valongo, principal porto de desembarque de pessoas escravizadas, recuperado após obras de revitalização na região, e o Cemitério dos Pretos Novos, onde foram enterrados, uns sob os outros, cerca de 50 mil corpos, incluindo crianças e adolescentes, que morreram no tráfico transatlântico.

Possível de ser identificado também por meio de um código QR, em placas, em alguns desses pontos, também está no roteiro cultural à comunidade quilombola Pedra do Sal, de 25 famílias, que ocupa antigos casarões e é pouco notada pelos frequentadores das noitadas no local. Um monumento histórico religioso, outro símbolo da Pequena África, a Pedra do Sal lota às segundas-feiras para tradicionais rodas de samba, herança dos estivadores que, décadas atrás, depois de escoar o sal de navios, usado como moeda de troca, se reuniam ali para tocar.

Todos esses três pontos, juntos, integram o complexo do Cais do Valongo, candidato a Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), lembra Damião Braga, uma das lideranças do quilombo.

Depois do lançamento, dezenas de pessoas percorreram os pontos turísticos da região.
Elaborado por meio de um edital da Petrobras para preservação do patrimônio imaterial, o aplicativo ajuda a conhecer a história e a refletir sobre o racismo estrutural na sociedade.

“Não é possível entender o Brasil sem compreender o genocídio que foi a escravidão, nem sem saber da riqueza da transformação cultural que os imigrantes africanos proporcionaram ao país. Quem não conhece as duas coisas não conhece o Brasil”, afirma a professora de história da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ao se deixar ser guiado pelo roteiro traçado pelo aplicativo, turistas e curiosos poderão ainda se deparar com referências recentes. Entre elas, uma das principais obras do engenheiro e abolicionista negro André Rebouças, o gigantesco Armazém Docas Pedro II; a casa onde pesquisadores acreditam ter nascido o escritor negro Machado de Assis – um dos mais importantes do país – e as sedes de associações de trabalhadores, majoritariamente negros, que lutaram pelo funcionamento de suas casas de dança e religiosas, reprimidos no século 20.

O roteiro da Pequena África, criado pelo projeto Passados Presentes, pode durar mais que uma manhã ou uma tarde inteira e deve ser percorrido todo a pé. O trajeto termina no Centro Cultural José Bonifácio, onde funciona o Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira.

Quem não se contentar com os 18 pontos pode acionar a opção “Perto de Mim”, que traz mais 58 referências, como um dos mais novos pontos turísticos, o Morro da Conceição.
O projeto Passados Presentes também tem roteiros traçados com as comunidades no Quilombo de Bracuí, em Angra dos Reis, na Costa Verde; no Quilombo de São José, em Valença, e sobre o jongo na cidade de Pinheiral, ambas no interior do estado do Rio.
Fonte: Ag. Brasil 

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