segunda-feira, 5 de maio de 2025

MULHERES REDEFINEM PAPEIS TRADICIONAIS

 Por Mônica Aguiar 

Nos últimos anos, observamos uma mudança significativa na dinâmica de gênero em diversas profissões que, tradicionalmente, eram dominadas por homens. Estudos recentes têm mostrado que as mulheres estão se destacando e assumindo posições de liderança.

As mulheres ao redor do mundo estão continuamente redefinindo papéis tradicionalmente atribuídos a elas, rompendo barreiras e desafiando normas sociais históricas.

Esse fenômeno é visível em áreas como a medicina, o direito, a engenharia e até mesmo na tecnologia da informação.

Eu acredito que essa transformação pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo maior acesso à educação superior e técnica, políticas mais ampla de igualdade de gênero e mudança de valores. Além disso, as mulheres têm demonstrado habilidades excepcionais em gestão, comunicação e inovação, o que as torna valiosas em qualquer equipe.

Esse cenário não apenas redefine os papéis tradicionais de gênero, mas também enriquece o mercado de trabalho com uma gama mais ampla de perspectivas e experiências. A necessidade de inclusão e ampliação no ambiente de trabalho, portanto, não é apenas uma questão de justiça social, mas também de aprimoramento organizacional e sucesso econômico a longo prazo.

A inclusão e ampliação da presença feminina no ambiente de trabalho são temas dos que buscam ampliação da economia.

Estudos mostram que a diversidade de gênero não só promove um ambiente de trabalho mais rico e inovador, mas também está correlacionada com melhores resultados financeiros. Ao integrar mulheres em todos os níveis hierárquicos, as empresas podem aproveitar uma gama mais ampla de perspectivas e habilidades, o que é essencial para enfrentar os desafios complexos do mercado atual.

Embora exista aumento dentro de vários espaços, ainda persistem desigualdades salariais  entre homens e mulheres. As mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens, mesmo quando ocupam posições equivalentes e possuem qualificações semelhantes.

Em 2024, as mulheres ganhavam, em média, 20,9% a menos que os homens, isso em empregos do setor privado e público. É o que aponta o 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em abril de 2025.

MÉDICOS

De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil (DMB), pela primeira vez, médicas são maioria entre os profissionais e no ensino de medicina.

Esta edição, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi realizada com o Ministério da Saúde. Em 2010, as mulheres eram 41% da população médica.

Hoje as mulheres representam 50,9% dos médicos no Brasil, porém as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas. O aumento da composição feminina na profissão é considerado expressivo.

As projeções indicam que, até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país.

Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023.

Entre as 55 especialidades regulamentadas no Brasil, sete concentram 50,6% do total de especialistas: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia/obstetrícia, anestesiologia,  cardiologia, ortopedia, traumatologia.

O estudo destaque que a parcela de especialistas (59,1%) em relação ao total de médicos está pouco abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%. (Fonte CNNBRASIL).

A predominância das mulheres na população brasileira, conforme indicado pelo Censo 2022, que aponta que elas representam 51,5% da população total, é um dado significativo que pode influenciar diversas áreas da sociedade. 

Este equilíbrio demográfico levanta questões importantes sobre a representação feminina em diferentes esferas, como no mercado de trabalho, na política e na educação.  Além disso, a presença majoritária feminina pode impactar políticas públicas, direcionando-as para atender melhor às necessidades das mulheres, como em questões de saúde, segurança e igualdade de oportunidades.

É fundamental reconhecer essa maioria não apenas destaca a importância das mulheres na construção social e econômica do país, mas também ressalta a necessidade de promover a igualdade de gênero e a inclusão em todos os níveis.

ESTUDO

As mulheres são maioria nas faculdades no Brasil. Elas representam 59.01% das matrículas no ensino superior, com cerca 10 milhões de matrículas. Este número é maior quando consideramos a conclusão dos cursos de graduação, chegando a 60,3% em 2022.

CHEFIA DE LARES

As mulheres são praticamente a metade de chefes de domicílio no Brasil. De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, as mulheres são responsáveis por 40,2 milhões de lares. O IBGE aponta que o percentual de lares com responsáveis femininas ultrapassa os 50% em 10 estados.

As mudanças na dinâmica familiar e o crescente número de mulheres qualificadas têm desempenhado um papel crucial na transformação da percepção sobre o papel das mulheres no ambiente de trabalho.

Com mais mulheres buscando educação superior e se especializando em diversas áreas, há um aumento significativo na presença feminina em setores anteriormente dominados por homens.

Essa evolução não só desafia estereótipos de gênero, mas também amplia as oportunidades para as mulheres assumirem posições de liderança e influência. Além disso, a dinâmica familiar moderna, que muitas vezes envolve uma abordagem mais equilibrada na divisão de responsabilidades domésticas e cuidado dos filhos, permite que as mulheres se dediquem mais às suas carreiras.

Essa transformação cultural está se refletindo em políticas corporativas mais inclusivas e em um mercado de trabalho que reconhece e valoriza a diversidade de gênero como um ativo essencial para a inovação e o crescimento econômico.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Benedita fala sobre Santíssima Trindade ter nome publicado na Portaria MCID Nº 366

 Por Mônica Aguiar 

Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do
 Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade
 

  Hoje, vou conversar com Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade, integrante do Coletivo Coordenadoras Unidas, 
é uma das sete entidades de Minas Gerais  que teve o nome publicado na PORTARIA MCID Nº 366, DE 11 DE ABRIL DE 2025.

O programa Minha Casa Minha Vida Entidades é uma iniciativa do governo federal brasileiro que visa facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda. Através da modalidade Entidades, organizações da sociedade civil podem atuar como intermediárias, auxiliando grupos de famílias a acessar linhas de financiamento para a construção de suas casas. Este modelo permite que as famílias participem ativamente do processo, desde o planejamento até a execução das obras, promovendo não apenas o acesso à moradia, mas também o fortalecimento do senso de comunidade e a autogestão. Além disso, a modalidade Entidades busca garantir que os projetos habitacionais sejam sustentáveis, respeitando as particularidades de cada região e promovendo o desenvolvimento social e econômico local. Com isso, o programa contribui significativamente para a realização do sonho da casa própria, transformando a vida de milhares de famílias brasileiras.

Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade  é uma entidade de luta por moradia e foi fundada em 1986.  O Projeto Sonho e Esperança, idealizado por Benedita, é uma iniciativa notável que busca proporcionar moradia digna através da autogestão organizativa das  famílias associadas. Este projeto se destaca por promover a participação ativa das famílias na gestão de suas próprias habitações, criando um senso de pertencimento e comunidade.

 Através de workshops, reuniões e colaborações, as famílias são capacitadas a tomar decisões coletivas sobre o desenvolvimento e manutenção dos espaços habitacionais. Além de oferecer uma solução prática para a questão da moradia, o projeto também visa fortalecer laços comunitários e incentivar a solidariedade entre as pessoas  participantes. Dessa forma, a iniciativa não só trabalha para suprir uma necessidade básica, mas também para transformar a vida das pessoas envolvidas, promovendo um futuro mais justo.

Eu perguntei a Benedita : Quando vc iniciou o projeto?

Benedita: O programa Minha Casa Minha Vida, criado para facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda, teve suas operações afetadas por diversos fatores ao longo dos anos. O chamamento de 2013, foi uma oportunidade importante para muitas associações que buscavam oferecer moradias dignas aos seus membros. 

O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 trouxe instabilidade, impactando a continuidade e o financiamento de muitos programas sociais, incluindo o Minha Casa Minha Vida. A busca por alternativas e soluções para esses desafios continua sendo essencial para garantir que programas habitacionais cumpram seu objetivo de reduzir o déficit habitacional no Brasil.  

Assim que foi publicado em 2013, o primeiro chamamento do Minha Casa Minha Vida entidades, eu encontrei neste programa uma alternativa para atender as famílias que fazem parte da minha associação. Em 2014 eu me escrevi no Programa e obtive 500 moradias e não foi construída por falta do terreno.

O que te motivou a manter o projeto?


Benedita: Com a eleição do Lula , a Politica de Habitação voltou e novamente e, eu fiquei motivada em cadastrar a minha Associação no Programa Nacional Minha Casa Minha Vida entidades. O processo de conseguir terreno para construção através de programas públicos pode ser bastante desafiador, especialmente quando esbarra em questões legais e burocráticas. É compreensível que a negativa da PBH/URBEL em liberar o terreno tenha sido um obstáculo significativo. Contudo, o apoio de profissionais experientes como Cláudia Pires pode ser um diferencial importante. Ela, com sua experiência em movimentos de moradia, possui o conhecimento e as habilidades necessárias para navegar por esses desafios. Além disso, é crucial continuar buscando apoio de outros órgãos públicos e explorar alternativas, como parcerias com o setor privado ou a busca por legislações que possam ser propostas para facilitar esse tipo de doação no futuro. O importante é não perder a esperança; o trabalho em equipe e a persistência abrem novos caminhos para transformar este sonho em realidade.

Vc percebe ausência em políticas pública da habitação em BH com relação as associações de luta por moradia?

Benedita: - Sim, percebo. A necessidade de ampliação das políticas públicas de habitação é um tema crucial, especialmente quando se trata de atender famílias que há anos aguardam suporte por meio de associações cadastradas na URBEL. Estas associações, que operam de maneira legal e têm um histórico de contribuição social, enfrentam desafios significativos devido à falta de critérios universais claros que definam a relação com a URBEL. 

É imperativo que o conselho municipal de habitação estabeleça diretrizes transparentes e equitativas para assegurar que essas famílias recebam a assistência necessária. 

A criação de tais critérios não só beneficiaria as famílias, mas também fortaleceria o papel das associações na sociedade, garantindo que seu trabalho seja reconhecido e continuado de forma eficaz. A implementação de políticas claras e justas pode transformar a realidade de muitas pessoas, promovendo um acesso mais igualitário à moradia digna.

Qual sua perspectiva ?

Benedita: - O meu compromisso é ajudar na redução do déficit habitacional em Belo. Buscar alternativas e mecanismos de atendimento é crucial, especialmente para famílias trabalhadoras de baixa renda. 

Construir uma proposta de contrapartida financeira por parte do Município é uma excelente estratégia para diminuir o custo final das obras, tornando a moradia mais acessível. Além disso, é fundamental criar políticas de proteção para famílias que vivem de favor ou aluguel, pois essas estão organizada dentro da associações e em situação de vulnerabilidade. 

Manter o foco em ajudar famílias de associações que compartilham a mesma missão e que demonstram organização e trabalho sólido é fundamental para ampliação do Projeto. Ajudar a fortalecer as associações podendo criar uma rede de apoio mais robusta, garantindo melhores condições de vida para um número maior de pessoas associadas.

É importante continuar dialogando com o poder público para buscar apoio e parcerias que possam fortalecer ainda mais essa iniciativa.

Quais foram as principais dificuldades encontradas?

Benedita:- Organizar as famílias com o perfil sócio econômico e renda conforme determina a Caixa Econômica Federal  é um dificultador. Conseguir encontrar e comprar o terreno é difícil. Convencer o dono do terreno que aguarde o tempo de tramitação burocrática do Ministério da Cidades e Caixa Econômica federal é muito difícil. Juntada de documentos, comprovações de legalidades e cumprimento dos prazos no tempo determinado pelos órgãos envolvidos  é muito difícil. Fazer com que as famílias  entendam a importância da autonomia da gestão financeira para execução do projeto desde o inicio é muito difícil. Aguentar criminalização, critica infundadas, desqualificação, discriminação, não é fácil.  Encontrar alguém com responsabilidade social como eu encontrei na arquiteta Cláudia Pires total solidariedade, responsabilidade e compromisso para ser a responsável técnica do Projeto não é uma tarefa fácil.

Eu digo o seguinte :

O Núcleo Santíssima Trindade, sob a liderança de Benedita, destacou-se no processo seletivo instituído pela Portaria MCID nº 862, de 4 de julho de 2023, não apenas por sua capacidade de concorrer e conquistar a contratação, mas também por sua organização independente. Esta associação em Belo Horizonte se diferencia por sua trajetória autônoma, fruto de anos de dedicação e empenho na luta por habitação digna. A experiência acumulada ao longo dos anos confere à associação uma posição de destaque, demonstrando que a mobilização comunitária e a gestão eficiente podem gerar resultados significativos mesmo sem a colaboração de outras entidades. Essa conquista reflete uma combinação de perseverança, conhecimento e compromisso com a causa habitacional, servindo como inspiração para outras organizações que buscam fazer a diferença em suas comunidades.


Benedita é verdadeiramente uma inspiração para muitos. Sua participação ativa em diversos conselhos de políticas públicas demonstra seu comprometimento em promover mudanças significativas na sociedade. Como uma mulher engajada na luta pela igualdade, Benedita dedica-se a combater o machismo e a promover um ambiente mais justo e inclusivo para todas as pessoas. Sua voz é poderosa e ressoante, levantando questões cruciais sobre a necessidade de se desconstruir estereótipos de gênero e de se construir uma sociedade onde todos tenham as mesmas oportunidades. Ao se posicionar contra as injustiças e ao trabalhar incansavelmente por um mundo mais igualitário, Benedita não apenas defende seus próprios direitos, mas também os de futuras gerações. Seu exemplo encoraja outras mulheres a se unirem à luta pela igualdade e a continuarem a desafiar as normas sociais que perpetuam a desigualdade de gênero.



segunda-feira, 14 de abril de 2025

Vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras


Por Mônica Aguiar 

A vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras é uma questão complexa e multifacetada que reflete desigualdades históricas. No Brasil, as mulheres negras enfrentam diversas dificuldades de acesso a oportunidades econômicas, devido ao legado do racismo e do patriarcado que permeia o sistema politico, estruturas de governos e econômicas.

É notório e estou percebendo a naturalização por parte dos poderes ao avaliar as posições de trabalho informais ou de baixa remuneração, com menos acesso a benefícios como licença maternidade e aposentadoria das mulheres negras.

As mulheres negras enfrentaram barreiras adicionais devido ao racismo, sendo frequentemente relegadas a trabalhos mal remunerados e sem direitos trabalhistas.

A maldita herança histórica contribuiu para a manutenção das desigualdades econômicas e sociais, onde a maioria ainda ocupa os degraus mais baixos da escala econômica. A falta de acesso aos direitos fundamentais continua a ser um obstáculo significativo, que reforça o ciclo de pobreza e exclusão.

Esta desigualdade econômica, onde a ampla maioria são mulheres negras já deveria ter sido encarrada pelo Brasil com ações verdadeiramente reparatórias.

Todos sabem muito bem que durante uma crise econômica, as mulheres frequentemente enfrentam um impacto desproporcional no mercado de trabalho. Elas tendem a perder mais empregos formais em comparação aos homens.

Além disso, as responsabilidades domésticas e de cuidado, que já são desigualmente distribuídas, aumentam para as mulheres durante períodos de instabilidade.

Com baixa remuneração, dependendo apenas dos recursos de transferência de renda de governos as tarefas, que incluem cuidar de crianças, idosos e a gestão do lar, sobrecarregam ainda mais seu tempo e energia, dificultando a busca por novas oportunidades de emprego ou a manutenção de seus empregos atuais.

Essa dinâmica não apenas exacerba desigualdades de gênero preexistentes, mas também retarda a recuperação econômica geral, já que metade da população enfrenta barreiras adicionais para contribuir plenamente com o crescimento econômico.

As questões analíticas avaliadas como subjetivas representam um desafio significativo na vida das mulheres negras, pois frequentemente são permeadas por preconceitos implícitos e estereótipos raciais.

Essas análises, muitas vezes, desconsideram as experiências e perspectivas únicas das mulheres negras, resultando em avaliações injustas que impactam suas oportunidades acadêmicas e profissionais.

A subjetividade pode levar à desvalorização de suas contribuições e habilidades, perpetuando desigualdades de gênero e raça.

É essencial reconhecer que, se as mulheres negras enfrentam uma falta de qualificação suficiente, isso é reflexo das desigualdades “estruturais” que persistem na sociedade. Repensar as medidas tomadas para diminuir essas desigualdades econômicas é crucial para garantir que todos tenham oportunidades justas de desenvolvimento.

Os programas de transferência de renda têm sido alvo de debates quanto ao seu impacto nas mulheres em situação de vulnerabilidade.

Embora esses programas forneçam um alívio financeiro crucial a curto prazo, eles nem sempre resultam em um aumento significativo e sustentável na capacidade econômica de compra das mulheres. Em muitos casos, a assistência recebida é suficiente apenas para atender às necessidades básicas, sem proporcionar oportunidades para investir em educação ou capacitação profissional, essenciais para romper o ciclo de pobreza.

Além disso, se não forem acompanhados de políticas complementares que promovam a inclusão no mercado de trabalho e a igualdade de gênero, esses programas podem, inadvertidamente, perpetuar a dependência econômica e a vulnerabilidade.

 Portanto, é fundamental que as políticas públicas integrem estratégias mais abrangentes que visem empoderar as mulheres, promovendo sua autonomia e participação ativa.

E a falta de leituras e análises aprofundadas sobre esse tema significa que muitas dessas questões ficam invisíveis ou subvalorizadas, dificultando a implementação de políticas eficazes e inclusivas. É essencial que pesquisadores, formuladores de políticas e a sociedade em geral reconheçam e abordem essas interseções para promover uma mudança real para  mitigar essa vulnerabilidade.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, uma batalha que deve ter fim !


 Por Mônica Aguiar

21 de março, dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, data histórica e importante  para refletir sobre as assimetrias existentes do racismo e as mazelas da escravidão. 

Esta data é um lembrete da necessidade contínua de combater todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, mas, principalmente para as mulheres negras.

 Particularmente, eu destaco a importância de reconhecer e enfrentar as múltiplas camadas de opressão vividas pelas mulheres negras, que ainda enfrentam discriminação tanto por sua raça quanto por seu gênero. As mulheres negras, em sua luta diária, buscam não apenas reconhecimento, mas também a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde suas vozes e experiências sejam valorizadas e respeitadas. 

Este dia serve como um chamado à ação para todos, incentivando práticas inclusivas e políticas que promovam a igualdade racial.

O 21 de Março nos convida a refletir sobre as dolorosas consequências da escravidão, cujas cicatrizes ainda são visíveis nas estruturas sociais e econômicas de hoje.

Ela nos urge a reconhecer as injustiças do passado e cobrar do Estado ações que desmantele as barreiras raciais existentes, promovendo um Brasil realmente  justo e equitativo.

Esta data é crucial para reflexão sobre o papel que governos e sistemas de justiça brasileiro e principalmente do STF-Supremo Tribunal Federal,  sobre o  desempenham no combate ao racismo e às mazelas escravagistas. 

No contexto brasileiro, onde a Constituição de 1988 estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, é imprescindível que essas instâncias atuem de forma eficaz no cumprimento dos Tratados, Convenções e Estatuto da Igualdade Racial. Avaliem concretamente as medidas afirmativas, as politicas públicas,  os mecanismos de denúncia e apuração de casos de racismo, discriminação racial, a assistência na promoção das pessoas negras.

As desigualdades raciais e o racismo são problemas profundamente enraizados que exigem abordagens genuínas e eficazes para serem superados. Em pleno 2025 observo que a maioria das ações são superficiais ou simbólicas e, utilizam as datas de denúncias para oferecer à sociedade uma aparência de progresso, e não abordam as causas estruturais subjacentes que perpetuam essas desigualdades e sustentam o racismo.

Nós, mulheres negras sabemos muito bem o que são palavras jogadas aos ventos, chavões criados para maquiar as mazelas existentes e agradar os poderosos e amigos.

As mulheres negras frequentemente enfrentam o peso dos chavões criados para maquiar as mazelas do racismo, expressões que minimizam ou distorcem a história e a responsabilidade do Estado e governos.

21 de  Março de 2025 ainda deparamos com chavões como "somos todos iguais" , "não vejo cor", “vitimismo”, “o racismo é estrutural”, “a sororidade faz a diferença”, que, embora possam até parecer bem-intencionadas, desconsideram as desigualdades e desafios específicos enfrentados por  mulheres negras.  Além disso, esses chavões tem servido para  silenciar discussões importantes sobre racismo discriminação, perpetuando um ciclo de exclusão e invisibilidade. É fundamental que a sociedade organizada reconheça e aborde essas questões de forma aberta , para que possamos avançar nas reparações.

De fato, o racismo é uma ideologia profundamente enraizada as estrutura que permeia diversas esferas da sociedade. Ele se manifesta de maneira sistemática, influenciando políticas públicas, práticas institucionais e relações sociais, perpetuando desigualdades e injustiças. Se ajusta conforme as forças políticas que se organizam, o racismo se adapta as pequenas mudanças estruturais.

Espero que neste 21 de Março as pessoas que tem o poder nas mãos, que tem o poder de fala e de comunicação façam uma abordagem crítica e abrangente.  

A confiança da sociedade nas instituições governamentais é essencial para a saúde de qualquer democracia. 

No Brasil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm o dever não apenas de criar e interpretar leis, mas também de assegurar sua efetiva implementação.

O racismo no Brasil é uma questão complexa e persistente, muitas vezes não é devidamente reconhecida ou enfrentada pelo sistema de justiça.

O racismo é estruturado por padrões históricos existente nas pessoas que estão em situação de privilégios a comparar com a maioria da sociedade. Historicamente, ele tem sido sustentado por sistemas sociais, econômicos e políticos que privilegiam certos grupos raciais em detrimento de outros.

Algumas práticas e políticas foram institucionalizadas ao longo do tempo. Até me permito acreditar que algumas sem a intenção consciente de perpetuar a discriminação e sem intenções racistas. 

Porém, como estão em  posições privilegiadas muitas vezes se beneficiam, em silêncio desses sistemas de desigualdade.

De fato, o silêncio em relação ao racismo pode ser interpretado como uma forma de conivência ou complacência com comportamentos racistas, muitas vezes adotada sob a justificativa de evitar conflitos ou desconforto. Essa prática, no entanto, perpetua a discriminação e impede o avanço na implementação da igualdade e justiça social. Quando as pessoas escolhem não se manifestar diante de ações racistas, elas acabam por normalizar essas atitudes, permitindo que continuem a existir sem questionamento.

Portanto, para combater eficazmente o racismo, é crucial abordar tanto as atitudes e ações individuais quanto as fórmulas e formas de gestão nas estruturas institucionais que sustentam a desigualdade racial.

O exercício da cidadania é um direito fundamental que todas as pessoas devem ter garantido, mas, para as mulheres negras, essa jornada é marcada por desafios históricos e sociais específicos. No Brasil, o legado da escravidão e o racismo  impõem barreiras significativas ao acesso igualitário a oportunidades e direitos.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cresce o número de filmes curtos com imagens de mulheres apanhando de homens .

 Por Mônica Aguiar 

O aumento no número de filmes curtos que retratam violência contra mulheres é uma tendência preocupante e que merece atenção crítica. Esse tipo de conteúdo pode ter um impacto negativo ao perpetuar estereótipos prejudiciais e normalizar comportamentos abusivos.

Com o avanço das tecnologias de comunicação, tornou-se mais fácil para indivíduos mal-intencionados atacar, intimidar ou assediar principalmente as mulheres em ambientes virtuais.

As plataformas digitais, frequentemente usadas para conexão e expressão, tornam-se palcos livres de comportamentos abusivos, como assédio, agressões, ameaças e difamação. Formando uma rede de violência cibernética.

Os atos de violência cibernética afetam o bem-estar emocional das mulheres e principalmente das meninas que têm acesso livre a estes canais e plataformas de comunicação.

A facilidade de anonimato e a falta de consequências imediatas incentivam a perpetuação desses abusos.

A produção simbólica de violências desempenha um papel crucial na formação e disseminação de ideias e valores, são espelhos das estruturas sociais e culturais existentes. No contexto das referências de relação da sociedade, essa produção perpétua narrativas e estereótipos que reforçam preconceitos e discriminações raciais.

O imaginário que coloca a culpa nas mulheres por variados aspectos da sociedade é uma construção social enraizada em estereótipos de gênero e desigualdades históricas. 

Essa visão simplista e equivocada ignora a complexidade das dinâmicas sociais e a contribuição significativa das mulheres em todas as esferas da vida. 

A afirmação de que metade do mundo é composta por mulheres e a outra metade foi parida por elas tenta, de maneira reducionista, atribuir uma responsabilidade injusta às mulheres, sem reconhecer o papel ativo e vital que desempenham na sociedade e todo o processo de violências sofrida.

Não existe compreensão por parte de muitas pessoas que valorize a igualdade de gênero, reconhecendo que tanto homens quanto mulheres têm responsabilidades e direitos iguais. Desconstruir conceitos de violência, mitos, promoção do respeito mútuo e da colaboração entre todos os gêneros passa por mudanças de padrões das plataformas para inclusão destas “curtas/filmes” em redes socais.

Estas produções denominadas particulares/individual de violência nas redes sociais, infelizmente, têm desempenhado um papel significativo na perpetuação e intensificação das desigualdades sociais.

Quando reafirmam estereótipos raciais contra uma mulher negra, essas representações contribuem para a manutenção de hierarquias e divisões baseadas em raça. A exposição contínua a conteúdos que enfatizam essas divisões normalizam e solidificam preconceitos e discriminações, tornando-se um círculo vicioso.

Além disso, a natureza viral e instantânea das redes sociais permite que essas mensagens se espalhem rapidamente, alcançando um público vasto e diversificado. Isto inclui crianças e adolescentes.

Essa forma de violência pode ter consequências devastadoras para as vítimas, incluindo danos emocionais, psicológicos e, em casos extremos, até físicos.

Combatê-la exige uma abordagem multifacetada, que inclui a educação digital para promover comportamentos online responsáveis, o fortalecimento das leis e regulamentações para punir comportamentos abusivos, e o desenvolvimento de tecnologias de detecção e prevenção de ataques cibernéticos.

A promoção de canais de denúncia eficazes é crucial para combater a violência contra a mulher. Infelizmente, muitas vezes faltam sistemas adequados que incentivem as vítimas a denunciar agressões, ou que garantam que todas as produções culturais, como curtas-metragens, incluam mensagens explícitas sobre a criminalidade desses atos.

É essencial que criadores de conteúdo e plataformas de distribuição reflitam sobre a responsabilidade que têm em promover narrativas mais saudáveis e inclusivas. Além disso, é fundamental que o público esteja ciente dos efeitos que essas representações podem ter na sociedade e exija uma abordagem mais ética e consciente na produção audiovisual.

Além disto, as plataformas online precisam assumir a responsabilidade de criar ambientes seguros e acolhedores, onde todos possam interagir sem medo de represálias ou assédio. A colaboração entre governos, empresas de tecnologia e a sociedade civil é essencial para enfrentar efetivamente esse desafio crescente.

A arte e o entretenimento têm o poder de educar e inspirar mudanças positivas, por isso é importante que sejam usados para promover respeito e igualdade.

 

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