quinta-feira, 20 de março de 2025

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, uma batalha que deve ter fim !


 Por Mônica Aguiar

21 de março, dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, data histórica e importante  para refletir sobre as assimetrias existentes do racismo e as mazelas da escravidão. 

Esta data é um lembrete da necessidade contínua de combater todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, mas, principalmente para as mulheres negras.

 Particularmente, eu destaco a importância de reconhecer e enfrentar as múltiplas camadas de opressão vividas pelas mulheres negras, que ainda enfrentam discriminação tanto por sua raça quanto por seu gênero. As mulheres negras, em sua luta diária, buscam não apenas reconhecimento, mas também a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde suas vozes e experiências sejam valorizadas e respeitadas. 

Este dia serve como um chamado à ação para todos, incentivando práticas inclusivas e políticas que promovam a igualdade racial.

O 21 de Março nos convida a refletir sobre as dolorosas consequências da escravidão, cujas cicatrizes ainda são visíveis nas estruturas sociais e econômicas de hoje.

Ela nos urge a reconhecer as injustiças do passado e cobrar do Estado ações que desmantele as barreiras raciais existentes, promovendo um Brasil realmente  justo e equitativo.

Esta data é crucial para reflexão sobre o papel que governos e sistemas de justiça brasileiro e principalmente do STF-Supremo Tribunal Federal,  sobre o  desempenham no combate ao racismo e às mazelas escravagistas. 

No contexto brasileiro, onde a Constituição de 1988 estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, é imprescindível que essas instâncias atuem de forma eficaz no cumprimento dos Tratados, Convenções e Estatuto da Igualdade Racial. Avaliem concretamente as medidas afirmativas, as politicas públicas,  os mecanismos de denúncia e apuração de casos de racismo, discriminação racial, a assistência na promoção das pessoas negras.

As desigualdades raciais e o racismo são problemas profundamente enraizados que exigem abordagens genuínas e eficazes para serem superados. Em pleno 2025 observo que a maioria das ações são superficiais ou simbólicas e, utilizam as datas de denúncias para oferecer à sociedade uma aparência de progresso, e não abordam as causas estruturais subjacentes que perpetuam essas desigualdades e sustentam o racismo.

Nós, mulheres negras sabemos muito bem o que são palavras jogadas aos ventos, chavões criados para maquiar as mazelas existentes e agradar os poderosos e amigos.

As mulheres negras frequentemente enfrentam o peso dos chavões criados para maquiar as mazelas do racismo, expressões que minimizam ou distorcem a história e a responsabilidade do Estado e governos.

21 de  Março de 2025 ainda deparamos com chavões como "somos todos iguais" , "não vejo cor", “vitimismo”, “o racismo é estrutural”, “a sororidade faz a diferença”, que, embora possam até parecer bem-intencionadas, desconsideram as desigualdades e desafios específicos enfrentados por  mulheres negras.  Além disso, esses chavões tem servido para  silenciar discussões importantes sobre racismo discriminação, perpetuando um ciclo de exclusão e invisibilidade. É fundamental que a sociedade organizada reconheça e aborde essas questões de forma aberta , para que possamos avançar nas reparações.

De fato, o racismo é uma ideologia profundamente enraizada as estrutura que permeia diversas esferas da sociedade. Ele se manifesta de maneira sistemática, influenciando políticas públicas, práticas institucionais e relações sociais, perpetuando desigualdades e injustiças. Se ajusta conforme as forças políticas que se organizam, o racismo se adapta as pequenas mudanças estruturais.

Espero que neste 21 de Março as pessoas que tem o poder nas mãos, que tem o poder de fala e de comunicação façam uma abordagem crítica e abrangente.  

A confiança da sociedade nas instituições governamentais é essencial para a saúde de qualquer democracia. 

No Brasil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm o dever não apenas de criar e interpretar leis, mas também de assegurar sua efetiva implementação.

O racismo no Brasil é uma questão complexa e persistente, muitas vezes não é devidamente reconhecida ou enfrentada pelo sistema de justiça.

O racismo é estruturado por padrões históricos existente nas pessoas que estão em situação de privilégios a comparar com a maioria da sociedade. Historicamente, ele tem sido sustentado por sistemas sociais, econômicos e políticos que privilegiam certos grupos raciais em detrimento de outros.

Algumas práticas e políticas foram institucionalizadas ao longo do tempo. Até me permito acreditar que algumas sem a intenção consciente de perpetuar a discriminação e sem intenções racistas. 

Porém, como estão em  posições privilegiadas muitas vezes se beneficiam, em silêncio desses sistemas de desigualdade.

De fato, o silêncio em relação ao racismo pode ser interpretado como uma forma de conivência ou complacência com comportamentos racistas, muitas vezes adotada sob a justificativa de evitar conflitos ou desconforto. Essa prática, no entanto, perpetua a discriminação e impede o avanço na implementação da igualdade e justiça social. Quando as pessoas escolhem não se manifestar diante de ações racistas, elas acabam por normalizar essas atitudes, permitindo que continuem a existir sem questionamento.

Portanto, para combater eficazmente o racismo, é crucial abordar tanto as atitudes e ações individuais quanto as fórmulas e formas de gestão nas estruturas institucionais que sustentam a desigualdade racial.

O exercício da cidadania é um direito fundamental que todas as pessoas devem ter garantido, mas, para as mulheres negras, essa jornada é marcada por desafios históricos e sociais específicos. No Brasil, o legado da escravidão e o racismo  impõem barreiras significativas ao acesso igualitário a oportunidades e direitos.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cresce o número de filmes curtos com imagens de mulheres apanhando de homens .

 Por Mônica Aguiar 

O aumento no número de filmes curtos que retratam violência contra mulheres é uma tendência preocupante e que merece atenção crítica. Esse tipo de conteúdo pode ter um impacto negativo ao perpetuar estereótipos prejudiciais e normalizar comportamentos abusivos.

Com o avanço das tecnologias de comunicação, tornou-se mais fácil para indivíduos mal-intencionados atacar, intimidar ou assediar principalmente as mulheres em ambientes virtuais.

As plataformas digitais, frequentemente usadas para conexão e expressão, tornam-se palcos livres de comportamentos abusivos, como assédio, agressões, ameaças e difamação. Formando uma rede de violência cibernética.

Os atos de violência cibernética afetam o bem-estar emocional das mulheres e principalmente das meninas que têm acesso livre a estes canais e plataformas de comunicação.

A facilidade de anonimato e a falta de consequências imediatas incentivam a perpetuação desses abusos.

A produção simbólica de violências desempenha um papel crucial na formação e disseminação de ideias e valores, são espelhos das estruturas sociais e culturais existentes. No contexto das referências de relação da sociedade, essa produção perpétua narrativas e estereótipos que reforçam preconceitos e discriminações raciais.

O imaginário que coloca a culpa nas mulheres por variados aspectos da sociedade é uma construção social enraizada em estereótipos de gênero e desigualdades históricas. 

Essa visão simplista e equivocada ignora a complexidade das dinâmicas sociais e a contribuição significativa das mulheres em todas as esferas da vida. 

A afirmação de que metade do mundo é composta por mulheres e a outra metade foi parida por elas tenta, de maneira reducionista, atribuir uma responsabilidade injusta às mulheres, sem reconhecer o papel ativo e vital que desempenham na sociedade e todo o processo de violências sofrida.

Não existe compreensão por parte de muitas pessoas que valorize a igualdade de gênero, reconhecendo que tanto homens quanto mulheres têm responsabilidades e direitos iguais. Desconstruir conceitos de violência, mitos, promoção do respeito mútuo e da colaboração entre todos os gêneros passa por mudanças de padrões das plataformas para inclusão destas “curtas/filmes” em redes socais.

Estas produções denominadas particulares/individual de violência nas redes sociais, infelizmente, têm desempenhado um papel significativo na perpetuação e intensificação das desigualdades sociais.

Quando reafirmam estereótipos raciais contra uma mulher negra, essas representações contribuem para a manutenção de hierarquias e divisões baseadas em raça. A exposição contínua a conteúdos que enfatizam essas divisões normalizam e solidificam preconceitos e discriminações, tornando-se um círculo vicioso.

Além disso, a natureza viral e instantânea das redes sociais permite que essas mensagens se espalhem rapidamente, alcançando um público vasto e diversificado. Isto inclui crianças e adolescentes.

Essa forma de violência pode ter consequências devastadoras para as vítimas, incluindo danos emocionais, psicológicos e, em casos extremos, até físicos.

Combatê-la exige uma abordagem multifacetada, que inclui a educação digital para promover comportamentos online responsáveis, o fortalecimento das leis e regulamentações para punir comportamentos abusivos, e o desenvolvimento de tecnologias de detecção e prevenção de ataques cibernéticos.

A promoção de canais de denúncia eficazes é crucial para combater a violência contra a mulher. Infelizmente, muitas vezes faltam sistemas adequados que incentivem as vítimas a denunciar agressões, ou que garantam que todas as produções culturais, como curtas-metragens, incluam mensagens explícitas sobre a criminalidade desses atos.

É essencial que criadores de conteúdo e plataformas de distribuição reflitam sobre a responsabilidade que têm em promover narrativas mais saudáveis e inclusivas. Além disso, é fundamental que o público esteja ciente dos efeitos que essas representações podem ter na sociedade e exija uma abordagem mais ética e consciente na produção audiovisual.

Além disto, as plataformas online precisam assumir a responsabilidade de criar ambientes seguros e acolhedores, onde todos possam interagir sem medo de represálias ou assédio. A colaboração entre governos, empresas de tecnologia e a sociedade civil é essencial para enfrentar efetivamente esse desafio crescente.

A arte e o entretenimento têm o poder de educar e inspirar mudanças positivas, por isso é importante que sejam usados para promover respeito e igualdade.

 

quarta-feira, 5 de março de 2025

CARNAVAL 2025. A MINHA NARRATIVA CELEBRA A CONTRIBUÇÃO DA CULTURA NEGRA

Por Mônica Aguiar

"Dentro dessas comunidades, destaco as mães negras que ocupam uma posição central, não apenas como cuidadoras, mas como verdadeiras guardiãs e transmissoras de tradições culturais e valores". 

O Carnaval de 2025 surge como um palco vibrante para a discussão de temas fundamentais na sociedade brasileira, entrelaçando tradição, crítica social e celebração.

As escolas de samba transformam a avenida em um mosaico de cores e sons que reflete a realidade do país, abordando a violência institucional, a homofobia, o racismo, o machismo e a intolerância religiosa.

 Com alegorias impressionantes, como peixes e águas-vivas infláveis, as escolas destacam a luta e os desafios enfrentados por milhões de brasileiros, especialmente os jovens negros, que sofrem com a brutalidade policial.

Entre os sambas-enredo, o respeito mútuo entre diferentes crenças, a precariedade das condições de vida nas favelas.

A narrativa do Carnaval também celebra a rica contribuição afro-brasileira, com referências à história do candomblé e aos rituais de matriz africana, além de homenagear figuras históricas da luta LGBTQI+. Um exemplo notável é a inclusão da primeira travesti não indígena documentada na história do Brasil, que simboliza tanto a luta pelos direitos LGBTQI+ quanto as diversas posições ocupadas por essas comunidades na sociedade.

A representação do povo negro na passarela transcende a moda, tornando-se uma poderosa narrativa de resiliência e contribuição histórica. 

Sem armas, mas com coragem e alegria, as representações reafirmam a capacidade inabalável de construir uma nação rica em diversidade e cultura.

Este desfile foi uma celebração do futuro e da tecnologia, que, ao mesmo tempo, presta homenagem às lutas históricas que moldaram nossa sociedade.

Este ato de inclusão e reflexão retrofuturista destaca a importância de se reconhecer e valorizar a diversidade em todas as suas formas, promovendo um futuro mais justo e equitativo.

 Um espetáculo onde a tradição encontra a tecnologia, o Carnaval de 2025 não só entretém, mas também provoca reflexão e promove a inclusão e o respeito, destacando-se como um marco na história da festa mais emblemática do Brasil.

O retrato da religiosidade que se entrelaça com os gritos das favelas é uma representação vívida da complexidade e riqueza cultural do Brasil.

A obra de Milton Nascimento é um exemplo perfeito de como a música pode capturar a essência da experiência humana, expressando tanto a dor quanto a esperança presentes nas comunidades marginalizadas. Sua música, carregada de fé, amizade e sonhos, ressoa profundamente com as alegorias e fantasias que permeiam a arte barroca de Minas Gerais. 

Minas Geris é conhecida por suas igrejas ornamentadas e rica herança cultural, serve de pano de fundo para uma expressão artística que une o sagrado e o cotidiano, revelando a beleza nas adversidades e a espiritualidade que brota em meio às dificuldades. Através de suas letras e melodias, Milton Nascimento oferece um vislumbre da alma mineira, onde a tradição e a inovação coexistem harmoniosamente, criando uma sinfonia de vozes que ecoam os anseios e sonhos de um povo.

A religião afro-brasileira Tambor de Mina é um testemunho vibrante da ancestralidade africana no Brasil, destacando-se não apenas como uma manifestação de fé, mas também como uma celebração da rica cultura negra. Os rituais repletos de energia e espiritualidade, envolvendo cânticos, danças e oferendas que evocam a presença dos voduns. Desempenho do papel fundamental na preservação e disseminação das tradições religiosas africanas no Brasil. A contribuição africana é igualmente visível no Carnaval, onde a herança cultural e a música de matriz africana enriquecem essa festividade com ritmos e expressões únicas. Nos cultos de matriz africana, rituais de proteção são realizados para assegurar a harmonia e o equilíbrio espiritual dos praticantes, destacando a profunda conexão entre o sagrado e o cotidiano.

Além disso, a influência dos negros de etnias bantu é evidente na cultura carioca, especialmente nas tradições musicais e culinárias, que continuam a moldar a identidade cultural do Rio de Janeiro. Essas contribuições ressaltam a importância da preservação e valorização do legado afro-brasileiro na construção da identidade nacional.

As favelas são espaços de resistência e resiliência que desempenham um papel crucial na cultura e na sociedade brasileira. 

Elas são frequentemente estigmatizadas, vistas apenas através de lentes de violência e pobreza, mas são também berços de rica diversidade cultural, inovação e solidariedade. 

Dentro dessas comunidades, destaco as mães negras que ocupam uma posição central, não apenas como cuidadoras, mas como verdadeiras guardiãs e transmissoras de tradições culturais e valores. 

Elas ensinam sobre a importância da coletividade, da luta por direitos e da preservação das identidades afro-brasileiras. Suas histórias e vivências são fundamentais para a construção de uma narrativa mais inclusiva e verdadeira sobre o Brasil. 

Ao mesmo tempo, o estereótipo negativo associado às favelas precisa ser desafiado e desconstruído para que essas comunidades sejam reconhecidas por suas contribuições significativas à sociedade e à cultura do país.

Percorrer o Brasil durante o Carnaval é embarcar em uma viagem cultural diversa e rica, onde cada região revela sua própria identidade e história através de suas celebrações. 

O samba e as escolas de samba trazem à avenida enredos que refletem lutas sociais e homenagens a figuras importantes da história nacional. Os blocos afro e o axé se misturam em uma festa que celebra a herança africana e a resistência cultural. O frevo e o maracatu ganham as ruas com suas tradições vibrantes e coloridas, contando histórias de resistência e celebração popular. Elementos mostrando a diversidade cultural mesmo dentro de uma única festividade. 

Cada canto do país, através de seu Carnaval, narra contos reais que falam sobre a identidade e a diversidade do povo brasileiro, em uma celebração que é tão multifacetada quanto a própria nação.

Eu sempre digo o seguinte: 

"É fundamental evitar a perpetuação de estereótipos que contribuem para a criminalização de determinados grupos sociais. Esses estereótipos muitas vezes são baseados em preconceitos e generalizações injustas que não refletem a complexidade e a diversidade das experiências individuais. Quando reforçamos esses estereótipos, perpetuamos um ciclo de discriminação e marginalização que pode levar a consequências graves, como a estigmatização social e a injustiça sistêmica. Devemos promover a compreensão e o respeito mútuo, valorizando cada pessoa por suas qualidades únicas e desafiando as narrativas simplistas que alimentam a divisão social. Ao rejeitarmos esses estigmas, contribuímos para uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todos têm a oportunidade de serem vistos e tratados de maneira ivrdadeiramente igualitária e respeitosa". 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

As mulheres, ao longo da história, têm oferecido perspectivas únicas e valiosas que frequentemente foram ignoradas ou minimizadas.

 Por Mônica Aguiar

Celebrar e reativar as lembranças dos fatos históricos é essencial para a compreensão do nosso passado, possibilitando um entendimento mais profundo do presente e a construção de um futuro mais justo.

A história, derivada do grego “hístor”, que significa aprendizado, nos oferece uma visão crítica sobre as realizações humanas, suas conquistas e perdas ao longo do tempo.

Ao explorarmos a cronologia dos eventos, percebemos os limites e contradições de nossa sociedade, bem como questões de aceitação e respeito ao próximo.

A história, quando registrada sem preconceitos, fornece ferramentas sólidas para moldar o futuro e nos ensina a aceitar as diferentes realidades, ampliando nossa compreensão do mundo. Além disso, é um lembrete constante das consequências de nossas ações, tanto individualmente quanto coletivamente.

Sem dúvida, a valorização das histórias de todas as mulheres é essencial para uma compreensão completa e equilibrada da história e da sociedade.

As mulheres, ao longo dos séculos, desempenharam papéis cruciais em diversas áreas, desde a ciência até a política, passando pela arte e pela cultura. No entanto, as notas destas contribuições são analisadas separadamente, variando conforme a cor da pele.

As mulheres negras têm que demonstrar o tempo todo resiliência e força inabaláveis.

A história das mulheres negras tem sido sistematicamente silenciada ao longo dos séculos, apesar de seu papel crucial na construção e desenvolvimento da sociedade. Desde as antigas civilizações africanas, onde desempenhavam funções vitais em suas comunidades, até a diáspora causada pelo tráfico transatlântico de escravos.

Ao analisar sem preconceitos a história, é possível identificar que as mulheres negras lideraram revoltas e resistências, enquanto outras preservavam culturas e tradições, garantindo a transmissão de conhecimentos ancestrais.

Do período pós-abolição até os tempos atuais, enfrentam discriminações múltiplas, ainda assim continuam lutando por direitos civis e igualdade de gênero, influenciando movimentos sociais em todo o mundo.

Apesar de seu impacto ser frequentemente invisibilizado, o legado das mulheres negras é indelével na busca por justiça e igualdade.

Ao contar, escrever e respeitar a história das mulheres negras, não somente reconhecemos suas conquistas e desafios, mas também criamos um legado de inspiração e aprendizado para futuras gerações.

Ao dar voz e visibilidade às narrativas que marcaram a história, promoveremos uma compreensão mais profunda das lutas na sociedade por igualdade e justiça. Destaco também a força daquelas que não são negras e somam as nossas lutas, e todas que vieram antes de nós.

Este reconhecimento não só honra o passado, mas também serve como um farol de esperança e motivação para as novas gerações buscarem, sem discriminações e sem racismo, um mundo verdadeiramente inclusivo.

Cada história contada é uma peça vital no mosaico da história humana, lembrando-nos da importância de empatia, solidariedade e ação coletiva.

A inclusão das narrativas negras é crucial para enriquecer nosso entendimento do mundo e promover uma sociedade equitativa.

 As mulheres, ao longo da história, têm oferecido perspectivas únicas e valiosas que frequentemente foram ignoradas ou minimizadas.

Ao garantir que todas as histórias sejam valorizadas, estaremos reconhecendo a diversidade de experiências humanas, mas também fomentando um ambiente onde a justiça social pode de fato florescer.

Isso implica a valorização de histórias e perspectivas variadas, sem segregação ou preconceito, permitindo que diferentes origens culturais, sociais e históricas sejam respeitadas e estudadas, em todos os campos e fases da academia.

A diversidade narrativa enriquece o tecido social, promovendo empatia e entendimento entre indivíduos de diferentes contextos. Além disso, ao abraçar essa multiplicidade de fatos, podemos desafiar estereótipos e expandir nossa compreensão do mundo, criando espaço para inovação e diálogo produtivo.

Ao valorizar as histórias femininas negras, inspirará mudanças positivas e promoverá a colaboração e respeito entre diferentes gêneros, culturas e comunidades.

A história, enquanto ciência, tem a responsabilidade de incluir e destacar as contribuições de todos os grupos sociais, especialmente das mulheres negras.

Durante séculos, as narrativas históricas tradicionais negligenciaram as realizações e as experiências dessas mulheres, perpetuando uma visão incompleta e distorcida da história.

Ao integrar as experiências das mulheres negras na historiografia, enriquecemos nosso entendimento sobre a diversidade de vozes e perspectivas que moldaram a humanidade. Reconhecer e documentar sem recortar não somente faz justiça a todas as mulheres, mas também contribui com a sociedade, conheça todos os lados da história da humanidade.

Respeitar as vozes, os conhecimentos históricos são honrar com todas as mulheres negras que, mesmo fora da academia, contribuíram para a formação de muitos acadêmicos.

Está na hora de mudar!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Seminário de Saúde da Mulher . Um Projeto com autonomia e atenção aos determinantes sociais.

 



Por Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova 

O Vetor Norte, uma região que abrange uma área significativa do entorno de Belo Horizonte, é marcado por uma composição populacional diversa e por notáveis desigualdades socioeconômicas. 

Estas desigualdades influenciam diretamente a saúde das mulheres, tornando crucial um estudo aprofundado das causas externas de morbidade e mortalidade entre elas.

Foto Defensoria Pública de Minas Gerais 

Os determinantes sociais da saúde, como condições de habitação, acesso a serviços de saúde, educação e emprego, desempenham um papel fundamental na compreensão dessas questões.

Fatores como violência doméstica, condições de trabalho precárias são algumas das causas externas que afetam desproporcionalmente as mulheres na região. Além disso, a disparidade no acesso a recursos e serviços de saúde de qualidade exacerba a vulnerabilidade dessa população.

Portanto, é essencial que políticas públicas e intervenções sociais sejam orientadas para mitigar essas desigualdades, promovendo assim um ambiente mais equitativo e saudável para todas as mulheres do Vetor Norte.

A população do Vetor Norte é composta por maioria de mulheres com idade reprodutiva entre 19 e 49 anos. 

Os municípios que formam o Vetor Norte têm Belo Horizonte como referência para vários serviços de saúde de alta e média complexidades, atenção secundária e terciária, na Rede Hospitalar.

Existem desafios significativos que precisam ser superados no acesso aos serviços de saúde pública. 

A universalidade e a implementação da Política  de Atenção a Saúde da Mulher Rede Alyne na Região de Venda Nova é imprescindível para garantia da qualidade de vida de todas as mulheres.

O Vetor Norte, é uma região em desenvolvimento lento, enfrenta desafios significativos no que diz respeito às desigualdades socioeconômicas, que impactam diretamente a saúde das suas habitantes.

As causas externas de morbidade e mortalidade entre as mulheres neste contexto são influenciadas por uma série de fatores sociais determinantes.

A violência de gênero, que é exacerbada por condições socioeconômicas precárias, se destaca como uma causa externa significativa que precisa ser abordada.

Além disso, o acesso limitado a serviços de saúde de qualidade e a falta de políticas públicas efetivas para a proteção social agravam ainda mais a situação.

Portanto, se faz nescessário a produção de um estudo aprofundado que analise essas influências se torna crucial para o desenvolvimento de intervenções eficazes que visem reduzir as desigualdades e melhorar a saúde e o bem-estar das mulheres na Região.

O Seminário de Saúde da Mulher-(SESAMU) completou sua terceira edição em 2023. 

Reúnem-se a cada três anos, em Belo Horizonte, com o objetivo principal de debater, informar e apresentar propostas para as ações e programas destinadas à promoção da Política de Atenção à Saúde das Mulheres e as estratégias para monitoramento da cobertura da atenção básica, promoção da equidade de gênero e raça e conhecimento sobre os serviços que fazem parte do SUS.

O Terceiro Seminário de Saúde da Mulher foi  realizado e organizado pelo Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova em parcerias com diversas entidades e instituições REHUNA(Rede Nacional de Humanização do Parto e Nascimento), CRIOLA, Defensoria Pública de Mina Gerais, Associação dos Defensores Públicos de Minas Gerais , Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado,  Fundação Municipal de Cultura – FMC .

A terceira edição contou com  diversas parceiras na coordenação e organização:  Neuma Soares Rodrigues (Presidente do Conselho de Saúde do Hospital Universitário Risoleta Neves Tolentino Neves e  Conselho Distrital de Venda Nova); de Samantha Vilarinho Mello Alves (Defensora Pública e Coordenadora Estadual de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais); Maria Lina Aguiar de Souza (Comissão interinstitucional de Saúde da Mulher do CMS/BH; Ambientalista membro do FMCJ – Fórum Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental); Regina Capistrano (Conselho Hospitalar Maternidade Sofia Feldmam, Conselheira Municipal de Saúde de Belo Horizonte); Maria Cristina Silva (Conselheira Tutelar); Terezinha Rocha (Conselho Estadual de Saúde e da Associação dos Deficientes de Minas Gerais); Polly do Amaral (InsTar, Sentidos do Nascer e Movimento Nasce Leonina); Rosália Diogo e Viviane Sales (Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, CRCP, Fundação Municipal de Cultura – FMC).

É realmente admirável que o Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova consiga mobilizar parcerias sem depender de subsídios governamentais. 

Essa capacidade de articulação reflete um forte compromisso com a comunidade e uma habilidade notável em criar redes de cooperação. 

O Seminário de Saúde da Mulher é uma iniciativa importante, pois aborda questões cruciais de saúde que historicamente afetam desproporcionalmente as mulheres negras. 

Através do Seminário, o Centro não apenas promove a conscientização sobre a saúde, mas também fortalece o senso de comunidade e empoderamento entre os participantes. 

Essa abordagem colaborativa demonstra a eficácia de parcerias estratégicas na promoção do bem-estar social e cultural.

As parcerias desempenham um papel crucial no enriquecimento do conteúdo de um Seminário, tornando-o mais robusto e diversificado. 

Ao reunir diferentes perspectivas e áreas de especialização, as colaborações promovem um ambiente de aprendizado mais dinâmico e abrangente.

Além disso, elas fomentam um senso de comunidade e cooperação, pois incentivam a troca de ideias e a construção de redes de contato entre os participantes. 

A interação não só amplia o conhecimento individual, mas também fortalece o evento como um todo, transformando-o em uma plataforma valiosa para inovação e desenvolvimento coletivo.

A união de esforços é uma prática fundamental em qualquer projeto que busca excelência. 

Quando várias pessoas ou equipes unem suas habilidades e conhecimentos, o resultado é um produto final que não apenas atende aos padrões de qualidade, mas frequentemente os supera. 

A colaboração existente permite a troca de ideias e a identificação de soluções inovadoras para desafios complexos. 

O comprometimento e a dedicação de cada participante são refletidos no trabalho final, promovendo um senso de pertencimento e realização coletiva.

A diversidade de perspectivas também enriquece o processo criativo, garantindo que o produto atenda a uma ampla gama de necessidades e expectativas. 

Portanto, a cooperação efetiva é uma poderosa ferramenta para alcançar resultados excepcionais.

Entre os resultados dos seminários destacamos:

  • Compreensão que atenção à saúde das mulheres em todas as suas fases de vida é  fundamental para garantir seu bem-estar físico, emocional e social. 
  • A manutenção das conquistas alcançadas ao longo dos anos, especialmente no que diz respeito aos direitos sexuais e reprodutivos, é crucial para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Esses direitos incluem o acesso a informações precisas sobre saúde sexual, a possibilidade de tomar decisões informadas sobre a reprodução, e o acesso a serviços de saúde de qualidade que respeitem a autonomia das mulheres.
  • A importância em abordar as necessidades de saúde específicas das mulheres em diferentes etapas de suas vidas, desde a adolescência até em todas as fases idosas,  assegurando que políticas públicas e sistemas de saúde estejam preparados para atender a essas demandas de maneira eficaz e inclusiva.
  • A garantia da saúde como um direito e um componente essencial da cidadania, reconhecendo como um princípio fundamental que deve ser assegurado em qualquer sociedade democrática. 
  • O reconhecimento que a saúde e o adoecimento não são fenômenos estáticos; eles variam significativamente ao longo do tempo e do espaço, influenciados por uma série de fatores, incluindo as desigualdades de acesso decorrentes do desenvolvimento econômico, social e racial de cada região.
  • O reconhecimento que em muitas partes do Brasil, as populações  negras enfrentam barreiras substanciais no acesso a serviços de saúde de qualidade, o que perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade. Portanto, é crucial que políticas públicas sejam implementadas para mitigar essas desigualdades, promovendo a equidade no acesso à saúde. 
  • Alocação de recursos adequados, com a criação de um ambiente inclusivo,  antirracista que reconheça e atenda às necessidades específicas de diferentes grupos populacionais, respeitando suas identidades e contextos culturais. 
  • A saúde deve ser vista como um direito humano universal, e sua garantia é um passo vital na construção de sociedades mais justas e equitativas.
  • A formulação do dossiê que norteiará as ações de atenção à saúde da mulher para um período de três anos é uma tarefa crucial para garantir o bem-estar e a equidade no acesso aos serviços de saúde. O Dossiê deve contemplar uma análise abrangente das necessidades de saúde das mulheres, levando em consideração fatores socioeconômicos, culturais e demográficos que possam influenciar seu acesso e qualidade de atendimento. O dossiê deverá propor estratégias para promover a saúde preventiva, melhorar o atendimento ginecológico e obstétrico, e atender às demandas específicas de saúde mental e reprodutiva. Além disso, é essencial que este documento envolva a participação ativa da sociedade civil, por meio de consultas e audiências públicas, para assegurar que as vozes das mulheres sejam ouvidas e respeitadas. 
  • O dossiê, deverá l ser entregue aos conselhos de saúde e ao poder público como uma Carta recomendatória, deve servir como um instrumento de controle social, promovendo a transparência e a responsabilidade na implementação das políticas de saúde voltadas para as mulheres.
  • O envolvimento das pessoas participantes em debates sobre as especificidades da saúde da população negra é fundamental para promover uma atenção mais equitativa e eficaz. 
  • Ampliação dos debates sobre a saúde sexual e reprodutiva e saúde da população negra enfatizando a equidade na atenção básica, garantindo que todos tenham acesso a assistência e serviços de saúde, independentemente de sua origem étnica ou socioeconômica. 
  • O reconhecimento da  integralidade dos serviços como princípio essencial, assegurando que as necessidades de saúde da população negra sejam tratadas de forma holística, abordando tanto fatores físicos quanto sociais.
  • A garantia da  descentralização e a regionalização dos serviços, pois permitem que as soluções de saúde sejam adaptadas às realidades locais, promovendo uma melhor distribuição dos recursos e aumentando a acessibilidade. 
  • Engajar a comunidade com conhecimento em todo o  processo de saúde pública , identificando as barreiras específicas e criando estratégias mais eficazes para superá-las, promovendo assim um sistema de saúde mais justo, transparente e inclusivo.
  • Avaliação e apresentação de propostas com ênfase na melhoria da atenção à saúde da mulher em todas as fases de sua vida, combatendo a racismo na saúde,  violência obstétrica.

A  cada edição do Seminário de Saúde da Mulher, uma nova experiência.

O Centro de Referencia da Cultura Negra de Venda Nova defende a expansão do Vetor Norte desde que proporcione oportunidade igualitária. 

Porém com as dinâmicas territoriais e econômica, o Vetor Norte sofre com o aumentar das desigualdades, gerando segregação sociorracial, além dos grandes problemas de ordem ambiental.

O aumento das tarefas e responsabilidades que recaem sobre as mulheres, criam barreiras significativas para sua participação ativa em causas sociais e movimentos ativistas. 

As mulheres enfrentam a dupla jornada, dividindo-se entre o trabalho remunerado, responsabilidades domésticas, familiares e as extra familiares que limita seu tempo e energia para se engajar em atividades cívicas. Isso não apenas as distancia de informações importantes e serviços essenciais, mas também restringe sua capacidade de influenciar mudanças sociais e políticas. Além disso, a falta de acesso a redes de apoio e recursos pode agravar essa situação, perpetuando um ciclo de exclusão. 

É crucial, portanto, buscar soluções que promovam a equidade de gênero, como políticas públicas que ofereçam suporte adequado, promovam a divisão equitativa das responsabilidades e incentivem a participação feminina em todas as esferas da sociedade.

O Seminário de Saúde da Mulher é um evento fundamental que promove um ambiente acolhedor e enriquecedor para todas as participantes. 

Este espaço não apenas facilita encontros e reencontros entre mulheres de diversas áreas e origens, mas também incentiva o compartilhamento de experiências e conhecimentos que são cruciais para a valorização do papel da mulher na sociedade. 

O Seminário de Saúde da Mulher oferece a oportunidade de discutir temas relevantes sobre a saúde feminina, proporcionando informações atualizadas e práticas que podem melhorar a qualidade de vida das participantes. 

Ao incentivar o exercício da cidadania, o evento reforça a importância do protagonismo feminino na construção de um futuro mais justo e igualitário.

O Seminário de Saúde das Mulheres – SESAMU é um evento significativo que promove o diálogo e a troca de conhecimentos entre mulheres envolvidas em diversas áreas ligadas à saúde e aos direitos humanos em Minas Gerais. Reunindo conselheiras de saúde, pesquisadoras, trabalhadoras do setor, além de militantes em defesa dos direitos das mulheres, do movimento negro e dos direitos humanos, o seminário busca abordar os desafios enfrentados por essas populações no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). As participantes exploram temas como as desigualdades econômicas e territoriais e o impacto do racismo no acesso e na qualidade dos serviços de saúde. 

O SESAMU, portanto, se configura como um espaço de resistência e construção coletiva, visando à promoção de políticas de saúde mais justas e inclusivas para todas as mulheres.

O foco no debate sobre atenção básica e determinantes sociais, especialmente dentro de um contexto de ações afirmativas no Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, é vital para enfrentar e derrubar barreiras raciais persistentes nas estruturas estatais e governamentais. 

O Seminário de Saúde da Mulher exemplifica um espaço onde essa discussão se materializa de maneira eficaz. 

A participação ativa das mulheres não apenas enriquece as conversas, mas também cria um ambiente de colaboração genuína, onde todas são ouvidas e valorizadas. 

Essa interação fomenta a emergência de ideias inovadoras e soluções criativas, ao mesmo tempo que promove o desenvolvimento pessoal e profissional das participantes. 

A troca de experiências fortalece uma rede de apoio essencial, capacitando as envolvidas a enfrentar os desafios contemporâneos com solidariedade e determinação.

 Edição - Mônica Aguiar Coordenadora geral do Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova 

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