segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Desafios enfretados por nós, mulheres negras

Por Mônica Aguiar

As práticas racistas representam um grave obstáculo ao pleno exercício  da democracia e da cidadania das mulheres negras. 

As conquistas são dadas de maneira desproporcional, com isto, vinculam de formas diferentes e promovem de formas diferentes a segregação racial. 

A mulher negra é a principal vítima do racismo “estrutural” é alvo de violência e discriminação, tanto no ambiente público quanto no privado.

 Não é simples ter que enfrentar os desafios adicionais do racismo em termos de acesso às oportunidades no emprego, na educação, na habitação e na saúde.

Afirmar que existe democracia é fácil. Garantir que o sistema democrático seja universalmente inclusivo, enfrente e combata todas as formas de racismo e práticas racistas estruturadas no setor público e no privado, é a questão.

Ao avaliar os números e seus percentuais dos avanços econômicos e de bens sociais alcançados nas últimas décadas, muitas narrativas de combate ao racismo acabam se perdendo. 

Na minha avaliação é imprescindível ressignificar a leitura da contribuição das mulheres negras à história brasileira. Mulheres que sempre desempenharam papéis fundamentais em diversas áreas, desde a luta pela abolição da escravatura até a promoção de direitos civis e sociais, sim. Também, o papel das mulheres negras na produção da economia e das riquezas, repetidas vezes subestimadas e invisibilizadas. 

As mulheres negras também são pilares em diversos setores econômicos, na ciência, tecnologia, inovação e, nos denominados setores intelectuais. No entanto, apesar de sua contribuição significativa, a maioria não tem acesso às riquezas que ajudam a gerar.

As barreiras sistêmicas, como o racismo, machismo e sexismo, perpetuam desigualdades que limitam suas oportunidades de ascensão econômica e social.

Mesmo quando alcançam posições de destaque, as mulheres negras enfrentam disparidades salariais e falta de reconhecimento. Frequentemente enfrentam barreiras sistêmicas que incluem discriminações de gênero e a interseccionalidade dessas opressões resulta em uma desvantagem econômica que perpetua diferenciadamente a desigualdade.

Além disso, a ressignificação dessas contribuições é essencial para a construção de novas narrativas.

Reconhecer, celebrar as conquistas das mulheres negras não é apenas um ato de justiça histórica é também um passo crucial para garantia dos direitos civis, a fim que as futuras gerações continuem essa jornada de resistência e transformação sendo protagonistas e tenham visibilidade e conhecimento do seu papel.

A proteção contra violações de direitos, especialmente a violência sexual, e a descriminalização de comportamentos considerados ilícitos são frequentemente negligenciadas no Brasil devido a uma combinação complexa de fatores.  Aspectos morais e religiosos estão profundamente enraizados na sociedade e influenciam a inteligência pública e as políticas adotadas por alguns gestores públicos.

A cor da pele continua a ser um fator determinante na classificação do potencial educacional e político das mulheres, perpetuando desigualdades que limitam seu acesso a direitos garantidos constitucionalmente.

Como assegurar que todos os direitos sejam efetivamente garantidos, independente da cor da pele?

O cenário político no Brasil, reflete e fomenta mecanismo sistêmico de discriminações que restringe as possibilidades de ascensão social e inibem a participação em espaços de poderes. 

O Brasil, ao assinar diversos tratados e convenções internacionais, evidencia seu compromisso em enfrentar problemas sociais profundos e persistentes. A adesão a acordos de combate à escravidão, ao racismo e às desigualdades de gênero é um reconhecimento explícito da existência desses males crônicos na sociedade brasileira. Estes tratados sinalizam uma intenção de mudança, representam um passo fundamental para a criação de políticas públicas verdadeiramente justas e inclusivas.

No entanto, a assinatura desses documentos foi apenas o primeiro passo; a implementação efetiva das medidas propostas é crucial para a real transformação social. A conscientização de Governos e gestores sobre responsabilidades assumida no Estado brasileiro e, a atuação contínua da sociedade civil são igualmente essenciais para garantir que essas promessas se traduzam em melhorias concretas na vida das mulheres negras.

As abordagens punitivas e conservadoras, estruturadas no racismo, contribuem para a perpetuação de pensamentos preconceituosos e práticas discriminatórias que violam direitos das mulheres em todas as fases de sua vida. Essa realidade dificulta a implementação de ações eficazes de proteção, atrasam com a revisão de leis que criminalizam comportamentos. Portanto, é crucial promover um diálogo aberto e inclusivo, que desafie essas influências negativas e trabalhe em prol de uma sociedade mais equitativa e respeitosa aos seres humanos negros.

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