sábado, 19 de novembro de 2022

20 de Novembro. Esta data não é para promover comemorações.

 

Por Mônica Aguiar 

O mês da Consciência Negra no Brasil é o mês que marca e destaca ações da luta dos negros contra o racismo, discriminação e preconceitos raciais. Muitas divulgações estão colocando o mês e Dia da Consciência Negra como data de comemoração, de fato não é.

Esta data aponta para uma série de reflexões, sobre a péssima situação socioeconômica do povo negro na sociedade brasileira.

Afinal, mesmo pós a tão comemorada libertação da escravidão, a maioria da população negra e principalmente as mulheres negras continuam obrigadas a conviver com a vulnerabilidade social, sem acesso aos diretos fundamentais garantidos pela Constituição do Brasil.

O mito da democracia racial se tornou uma ideologia, mantendo-se cada dia mais viva, condenando cotidianamente o povo negro a exclusão da vida social, segregadas economicamente e diretamente atingida das múltiplas formas de violências.

Em apenas quatro anos, o número de pessoas negras na pobreza e extrema pobreza dobraram no Brasil. Estes dados tem como base informações da ( PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE ).

O meu ver, matérias e chamadas que buscam falar do mês da consciência negra de forma comemorativa, demostram uma grande falta de conhecimento sobre a Lei10639, a falta de interresses de buscar informações corretas.

Quando o assunto em pauta é a população negra, chavões, frases postas, mal copiadas, sem sentido hitorico, palavras pejorativas, conteúdo criminalizador são muito utilizados.

É preciso mudar os conceitos nos meios de comunicações. Utilizar linguagem que retratem o 20 de Novembro como dia de denúncia, protestos contra as violações dos direitos humanos, direitos civis da população negra e abordem com firmeza, sem melindres as dificuldades encontradas pelo povo negro para exercer a cidadania.

É preciso buscar o conhecimento correto. Dar voz a quem tem conhecimento. Visibilizar as pessoas que lutam historicamente pelo combate ao racismo, pois detém conhecimento técnico, científico e político, seja através da academia, oralidade ou experiência adquirida com a vida e militância.

Para a juventude que tem demostrado protagonismo e despontado a visibilidade, principalmente acadêmica é preciso, fomentar agendas que tenham conteúdo que mecham com as estruturas do Estado. Pautas que coloquem o reconhecimento do povo negro destes pais como cidadãos e não meros figurantes. Que fale da cidadania, que retrate as desigualdades e coloque a importância do acesso às riquezas, que dialoguem com a sociedade sobre a prática do racismo, mas também sobre a naturalização deste crime e a falta de cumprimento com as leis, tratados e convenções que o Brasil assinou.  Que fale das reparações!

Diminuir a importância do mês da Consciência Negra e folclorizar o dia 20 de novembro é uma prática racista e negacionista. A luta do movimento negro pelo reconhecimento por parte do Estado do dia 20 de novembro vem se arrastando por dezenas de anos. E ainda assim, mesmo com alguns avanços ou arranjos sociais e estruturais, existem muitas prioridades para garantir a igualdade entre negros e não negros no Brasil. As desigualdades raciais estão aí, demostradas em cada ser humano negro que morre nas mãos das polícias, nos rostos de quem não tem moradia, nas mãos de quem trabalha sol a sol, na pele negra de quem não tem saúde pública e específica, de quem usa transporte público, não tem saneamento, não tem emprego ou estar no subemprego e nos altos números de mortes maternas e evitáveis, dentre tantas.

As desigualdades raciais estão verbalizadas nas palavras e falta de vontade política de governantes que não priorizam as políticas específicas. Não aceitam a existência do racismo e das desigualdades porque não querem. Mudaram os formatos, fórmulas e estratégias, mas tem desde a escravidão a mesma intenção social, politica econômica contra a população negra.

É um absurdo e vergonhoso o crescimento da população negra na pobreza e extrema pobreza no Brasil nos últimos 4 anos.

Os esforços para a construção social, o desenvolvimento da identidade em pessoas negras, o combate ao genocídio e a criminalização de jovens negros, oportunidades, igualdades salariais, reconhecimento das especificidades, acesso ao poder, a política, acesso às políticas públicas, o exercício da cidadania, ainda são pautas vigentes e estão colocadas desde (pós) escravidão pelo movimento negro e de mulheres negras.

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