Por Mônica Aguiar
O Código Penal Brasileiro, de 1940, estabelece os permissivos legais para a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. O aborto é crime pela legislação brasileira desde 1940, portanto há 85 anos.
Em dois incisos no artigo 128, a legislação não pune o médico
que realiza o aborto: para salvar a vida da mulher e para o caso de uma
gestação decorrente de estupro, por solicitação e consentimento da mulher. Se a
mulher for menor de idade, deficiente mental ou incapaz, por autorização de seu
representante legal. Em 2012 foi amplido
por decisão do Superior Tribunal Federal, para casos de anencefalia.
Existem vários arcabouços legais com protocolos estabelecendo
normas que esclarecem as condições a serem observadas pelos profissionais de
saúde para realizar a interrupção da gestação, como quais os documentos
necessários e quais as técnicas recomendadas nas melhores evidências.
Este artigo explora as razões por trás das iniciativas, as estratégias utilizadas por movimentos conservadores e as implicações para
a sociedade.
Os movimentos conservadores que buscam restringir o acesso ao
aborto frequentemente utilizam argumentos baseados apenas em preocupações
morais e éticas. Eles defendem que a vida deve ser protegida desde a concepção
e acreditam que o aborto representa uma violação dos direitos do nascituro.
Para esses grupos, a preservação da vida é um valor fundamental, e a legalidade
do aborto é vista como uma afronta aos princípios que defendem prioritariamente a
vida das mulheres.
Como o debate sobre o aborto é um tema que a provocar discussões
acaloradas e chama a atenção da sociedade
no Brasil para os propositores. Eis que surgem novas leis especialmente no
período eleitoral que visam impor limites ou penalidades adicionais ao aborto
legal.
Recentemente, cidades como Belo Horizonte, Curitiba, Porto
Alegre, Recife e Rio de Janeiro têm sido palco de iniciativas que buscam
introduzir o conceito de "síndrome pós-aborto".
As iniciativas de introduzir leis mais restritivas ao aborto se
opondo aos direitos sexuais e reprodutivos desrespeitam os limites de decisões
federativas e o próprio Código Penal.
Essas iniciativas buscam, por meio de legislações locais
restringir o acesso ao aborto legal, alegando apenas preocupações morais e
éticas.
A "síndrome
pós-aborto" é um termo controverso, recentemente utilizado por alguns
grupos para descrever uma série de sintomas emocionais e psicológicos que
alegam ser comuns após a realização de um aborto. Contudo, a comunidade
científica não reconhece oficialmente esta síndrome como um diagnóstico válido,
e muitos especialistas argumentam que o termo é usado como uma ferramenta
política para influenciar a opinião pública contra o aborto.
As ações tomadas em cidades como Belo Horizonte, Curitiba,
Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro refletem uma tendência de municipalização
do debate sobre o aborto. Ao introduzir legislações locais, essas cidades se
tornam campos de batalha para a discussão mais ampla sobre direitos
reprodutivos no país.
O debate sobre o aborto e as tentativas de introduzir leis
mais restritivas refletem uma tensão entre valores morais e direitos
individuais. Enquanto os movimentos conservadores justificam suas ações por
meio de preocupações éticas, é crucial considerar as consequências práticas
dessas restrições para a saúde e os direitos das mulheres. O diálogo contínuo e
o respeito às decisões legais estabelecidas são essenciais para abordar este
tema complexo de forma equilibrada e justa.
A discussão sobre a autonomia dos corpos das mulheres é um
tema profundo e multifacetado. Não se trata apenas do direito de tomar decisões
sobre o próprio corpo, mas também do respeito às leis que garantem a vida e a
segurança, especialmente das meninas. A questão do estupro, um crime hediondo e
inaceitável, deve ser abordada com seriedade e compromisso com a justiça.
Quando discutimos sobre o direito das mulheres à autonomia
corporal, é essencial lembrar que o estupro é um crime que viola não apenas o
corpo, mas também a dignidade e os direitos fundamentais da vítima. As leis
existem para proteger as vítimas e punir os agressores, e qualquer discurso que
minimize a gravidade do estupro ou proteja os criminosos está, na verdade,
perpetuando a impunidade e a injustiça.
Todos devemos nos comprometer a proteger os direitos das
mulheres e a garantir que aqueles que cometem crimes sejam devidamente
responsabilizados.
Uma gravidez resultante de estupro representa um fardo
emocional e psicológico imenso para a vítima. O estupro, por si só, é um crime
violento que viola a dignidade e a autonomia de uma pessoa. Quando isso resulta
em uma gravidez, a vítima pode sentir-se revitimizada, pois é forçada a
enfrentar constantemente o resultado de um ato de violência.
As vítimas podem experimentar uma gama de emoções, incluindo
raiva, tristeza, confusão e medo. O estresse pós-traumático é comum, e o
processo de lidar com a gravidez pode intensificar esses sentimentos. É crucial
que as vítimas recebam apoio psicológico adequado para ajudá-las a lidar com
essas emoções complexas. Não esta justificativa escrota de síndrome pós-aborto.
Então a questão da escolha é central quando se discute a
gravidez resultante de estupro?
Cada mulher deve ter o direito de decidir o que é melhor para
ela e seu corpo. Algumas mulheres podem optar por continuar com a gravidez,
enquanto outras podem decidir pela interrupção. Ambas as escolhas são válidas e
devem ser respeitadas, garantindo que a mulher tenha acesso a informações e
recursos necessários para tomar uma decisão informada.
Estes contra legisladores das leis e do Código Penal deveriam estar preocupados com a oferta de apoio abrangente às vítimas de
estupro. Isso inclui acesso a serviços de saúde mental, aconselhamento jurídico
e assistência médica. Além disso, deveriam promover uma cultura de empatia e
compreensão, onde as vítimas não sejam julgadas ou estigmatizadas por suas escolhas.
Os parlamentares em vez de se preocuparem excessivamente em interferir na vida privada dos cidadãos com base em valores morais, é crucial que voltem a atenção para questões urgentes, como a segurança das mulheres. Os parlamentares podem promover mudanças significativas ao criar e implementar leis que protejam as mulheres e punam os agressores de forma eficaz. Focar na segurança das mulheres e no combate à violência é um passo essencial para alcançar humanidade. Estes homens podem ajudar a construir uma sociedade onde todas as pessoas, independente de gênero, possam viver sem medo e com dignidade. Para isto basta que eles respeitem as Leis e os limites de proposições federativas.
“As estatísticas mostram que meninas de até 14 anos,
majoritariamente negras (55,6%) e pobres, concentram a maior parte das
ocorrências. Em 83,9% dos casos, os agressores são familiares ou conhecidos, e
67,9% das violências ocorrem dentro de casa. Segundo a Fiocruz, 23 crianças dão
à luz por dia no Brasil. Entre 2011 e 2021, mais de 107 mil meninas de 10 a 14
anos tiveram filhos” . Agênci Patrícia Galvão
As leis são um dos pilares fundamentais de qualquer
democracia. Elas estabelecem normas e diretrizes que garantem a ordem, a
justiça e a equidade na sociedade. Quando um parlamentar, que deveria ser um
guardião dessas leis, as desrespeita, criando leis complementares ele não só
compromete sua própria integridade, mas também o funcionamento do sistema
democrático. Portanto, é de extrema importância que parlamentares respeitem as
leis e ajam de acordo com os princípios éticos e legais que juraram defender não os valores morais e punitivistas.
