quinta-feira, 22 de maio de 2025

Por que é importante falar das mortes maternas, direitos e justiça reprodutiva na terceira idade?

Por Mônica Aguiar 

28 de maio. Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna

Chego aos meus 60 anos e muitas pessoas perguntam, Monica Aguiar, por que falar das mortes maternas, direitos sexuais e reprodutivos na idade em que você se encontra?

Por um instante, abaixo a cabeça, lembro exatamente o que passei para ter meus seis filhos. Levanto a cabeça, olho para frente e para os lados e percebo que muitas ainda passam igualmente por tudo que passei. São 37 anos do primeiro parto e 21 do último. Refletir sobre uma jornada de maternidade é um exercício poderoso de memória e resiliência. Criar seis filhos ao longo de quase quatro décadas não é somente uma prova de força física e compromisso contínuo. Cada geração tem suas próprias dificuldades, mas é impressionante como algumas experiências permanecem constantes.

Ao olhar ao redor, é possível ver outras mães que enfrentam batalhas semelhantes, cada uma com suas próprias histórias e desafios. Isso cria uma rede invisível de solidariedade e compreensão entre mulheres que, mesmo em tempos diferentes, compartilham a mesma essência ao ser mãe.

A questão da coincidência do destino em comparação ao ritmo produzido no tempo de reflexão profunda sobre como as nossas vidas são moldadas. À medida que a sociedade avança e se aprofunda em novos conhecimentos, é inevitável que paradigmas e conceitos repressores sejam desafiados e reinterpretados. Muitas vezes, o que pode parecer uma coincidência pode, na verdade, ser o resultado do acesso a informações científicas e à educação que moldam nossas experiências e escolhas. 

Os valores que antes eram considerados inabaláveis podem se transformar, e conceitos que pareciam eternos podem se dissipar à medida que novas ideias emergem. Este processo de mudança é uma característica intrínseca da evolução humana e nos desafia a adaptarmo-nos e a reconsiderar o que realmente importa em nossas vidas.

Assim, ao considerarmos o futuro da humanidade, é essencial pensarmos em como as decisões que tomamos hoje, tanto em termos de ciência quanto de valores, impactarão o mundo que deixaremos para os nossos descendentes.

Com estas mudanças, o acesso a direitos que eram até pouco tempo privilégio para algumas pessoas passa a ser acessado por várias camadas socioeconômicas da sociedade. Mudanças dos conceitos e descoberta da sociedade de que a política do toma lá dá cá, a depender de onde se pratica e como se pratica, não é ruim e pode ser aplicada na hora do voto.

Então, o que tudo isto tem a ver com falar de mortes maternas? Falar de mortes maternas, vamos ter que abordar violência, determinantes sociais, autonomia, humanização das relações, respeito, tolerância, emancipação, ganhos salariais, racismo, misoginia e avaliar a prestação de serviços. Abordar essas questões pode levar a uma redução significativa nas mortes maternas e a um sistema de saúde mais justo e equitativo para todas as mulheres, além de contribuir para o entendimento da emancipação das mulheres, permitindo-lhes participar plenamente nas decisões que afetam suas vidas.

Por que tantos filhos? A questão de ter muitos filhos é frequentemente envolta em uma série de preconceitos e julgamentos que não consideram as complexidades da sociedade e nem as motivações pessoais, sociais, culturais das pessoas e famílias.

O debate sobre os direitos reprodutivos das mulheres tem se intensificado, sendo questionados à medida que novos conceitos sobre a definição dos direitos das mulheres ganham destaque.

É preciso que conceitos emancipatórios tenham a compreensão mais abrangente da autonomia corporal, igualdade de gênero e acesso a cuidados de saúde de qualidade. Ao reconhecer que os direitos reprodutivos são fundamentais para a realização plena dos direitos humanos das mulheres, discute-se a importância de garantir acesso seguro e legal a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e aborto. 

Além disso, Há que analisar sobre as barreiras culturais, religiosas, econômicas e legais que impedem as mulheres de exercerem com autonomia seus direitos reprodutivos. 

Infelizmente, centenas de mulheres tem seu corpo violado por estupro. Esse é um tema profundamente complexo na sociedade e doloroso que demanda sensibilidade e empatia. A questão do estupro e da violência sexual é uma violação grave dos direitos humanos e deve ser abordada com seriedade e compaixão. 

Quando a sociedade aplaude a decisão de uma mulher de continuar uma gravidez resultante de estupro, é essencial distinguir entre apoiar a coragem e a resiliência da vítima e, inadvertidamente, perpetuar uma cultura que minimiza a gravidade da violência sofrida.

A sociedade contemporânea promove frequentemente a ideia de que a liberdade sexual é o único caminho para a felicidade plena e a realização pessoal. No entanto, essa liberdade é muitas vezes acompanhada de um julgamento moral que afeta desproporcionalmente as mulheres. A moralidade sexual ainda é, em muitos aspectos, uma questão de controle social, onde normas tradicionais tentam ditar o comportamento feminino, perpetuando estigmas e preconceitos.

Falar sobre mortes maternas e direitos sexuais e reprodutivos é crucial em qualquer idade, e minha experiência e sabedoria de vida podem trazer uma perspectiva valiosa para essas discussões.

Muitas vezes, mulheres mais jovens se beneficiam da orientação e apoio de pessoas que já percorreram etapas significativas de suas vidas.

Além disso, questões relacionadas dos direitos reprodutivos afetam mulheres de todas as idades e, ao abordar esses temas, estou contribuindo para a conscientização e mudança social. 

O meu, o seu, o nosso envolvimento ao tema pode ajudar a promover políticas públicas mais eficazes e garantir que futuras gerações tenham acesso a cuidados de saúde adequados e direitos reprodutivos protegidos. 

Continuar a falar sobre esses assuntos mostra compromisso com a justiça social e a dignidade humana, valores que não conhecem limites de idade.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

MULHERES REDEFINEM PAPEIS TRADICIONAIS

 Por Mônica Aguiar 

Nos últimos anos, observamos uma mudança significativa na dinâmica de gênero em diversas profissões que, tradicionalmente, eram dominadas por homens. Estudos recentes têm mostrado que as mulheres estão se destacando e assumindo posições de liderança.

As mulheres ao redor do mundo estão continuamente redefinindo papéis tradicionalmente atribuídos a elas, rompendo barreiras e desafiando normas sociais históricas.

Esse fenômeno é visível em áreas como a medicina, o direito, a engenharia e até mesmo na tecnologia da informação.

Eu acredito que essa transformação pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo maior acesso à educação superior e técnica, políticas mais ampla de igualdade de gênero e mudança de valores. Além disso, as mulheres têm demonstrado habilidades excepcionais em gestão, comunicação e inovação, o que as torna valiosas em qualquer equipe.

Esse cenário não apenas redefine os papéis tradicionais de gênero, mas também enriquece o mercado de trabalho com uma gama mais ampla de perspectivas e experiências. A necessidade de inclusão e ampliação no ambiente de trabalho, portanto, não é apenas uma questão de justiça social, mas também de aprimoramento organizacional e sucesso econômico a longo prazo.

A inclusão e ampliação da presença feminina no ambiente de trabalho são temas dos que buscam ampliação da economia.

Estudos mostram que a diversidade de gênero não só promove um ambiente de trabalho mais rico e inovador, mas também está correlacionada com melhores resultados financeiros. Ao integrar mulheres em todos os níveis hierárquicos, as empresas podem aproveitar uma gama mais ampla de perspectivas e habilidades, o que é essencial para enfrentar os desafios complexos do mercado atual.

Embora exista aumento dentro de vários espaços, ainda persistem desigualdades salariais  entre homens e mulheres. As mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens, mesmo quando ocupam posições equivalentes e possuem qualificações semelhantes.

Em 2024, as mulheres ganhavam, em média, 20,9% a menos que os homens, isso em empregos do setor privado e público. É o que aponta o 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em abril de 2025.

MÉDICOS

De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil (DMB), pela primeira vez, médicas são maioria entre os profissionais e no ensino de medicina.

Esta edição, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi realizada com o Ministério da Saúde. Em 2010, as mulheres eram 41% da população médica.

Hoje as mulheres representam 50,9% dos médicos no Brasil, porém as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas. O aumento da composição feminina na profissão é considerado expressivo.

As projeções indicam que, até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país.

Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023.

Entre as 55 especialidades regulamentadas no Brasil, sete concentram 50,6% do total de especialistas: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia/obstetrícia, anestesiologia,  cardiologia, ortopedia, traumatologia.

O estudo destaque que a parcela de especialistas (59,1%) em relação ao total de médicos está pouco abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%. (Fonte CNNBRASIL).

A predominância das mulheres na população brasileira, conforme indicado pelo Censo 2022, que aponta que elas representam 51,5% da população total, é um dado significativo que pode influenciar diversas áreas da sociedade. 

Este equilíbrio demográfico levanta questões importantes sobre a representação feminina em diferentes esferas, como no mercado de trabalho, na política e na educação.  Além disso, a presença majoritária feminina pode impactar políticas públicas, direcionando-as para atender melhor às necessidades das mulheres, como em questões de saúde, segurança e igualdade de oportunidades.

É fundamental reconhecer essa maioria não apenas destaca a importância das mulheres na construção social e econômica do país, mas também ressalta a necessidade de promover a igualdade de gênero e a inclusão em todos os níveis.

ESTUDO

As mulheres são maioria nas faculdades no Brasil. Elas representam 59.01% das matrículas no ensino superior, com cerca 10 milhões de matrículas. Este número é maior quando consideramos a conclusão dos cursos de graduação, chegando a 60,3% em 2022.

CHEFIA DE LARES

As mulheres são praticamente a metade de chefes de domicílio no Brasil. De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, as mulheres são responsáveis por 40,2 milhões de lares. O IBGE aponta que o percentual de lares com responsáveis femininas ultrapassa os 50% em 10 estados.

As mudanças na dinâmica familiar e o crescente número de mulheres qualificadas têm desempenhado um papel crucial na transformação da percepção sobre o papel das mulheres no ambiente de trabalho.

Com mais mulheres buscando educação superior e se especializando em diversas áreas, há um aumento significativo na presença feminina em setores anteriormente dominados por homens.

Essa evolução não só desafia estereótipos de gênero, mas também amplia as oportunidades para as mulheres assumirem posições de liderança e influência. Além disso, a dinâmica familiar moderna, que muitas vezes envolve uma abordagem mais equilibrada na divisão de responsabilidades domésticas e cuidado dos filhos, permite que as mulheres se dediquem mais às suas carreiras.

Essa transformação cultural está se refletindo em políticas corporativas mais inclusivas e em um mercado de trabalho que reconhece e valoriza a diversidade de gênero como um ativo essencial para a inovação e o crescimento econômico.

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