Por Mônica Aguiar
28 de maio. Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
Chego aos meus 60 anos e muitas pessoas perguntam, Monica Aguiar, por que falar das mortes maternas,
direitos sexuais e reprodutivos na idade em que você se encontra?
Por um instante, abaixo a
cabeça, lembro exatamente o que passei para ter meus seis filhos. Levanto a
cabeça, olho para frente e para os lados e percebo que muitas ainda passam
igualmente por tudo que passei. São 37 anos do primeiro parto e 21 do último. Refletir
sobre uma jornada de maternidade é um exercício poderoso de memória e
resiliência. Criar seis filhos ao longo de quase quatro décadas não é somente uma prova
de força física e compromisso contínuo. Cada geração tem suas próprias
dificuldades, mas é impressionante como algumas experiências permanecem
constantes.
Ao olhar ao redor, é
possível ver outras mães que enfrentam batalhas semelhantes, cada uma com suas
próprias histórias e desafios. Isso cria uma rede invisível de solidariedade e
compreensão entre mulheres que, mesmo em tempos diferentes, compartilham a
mesma essência ao ser mãe.
A questão da coincidência do destino em comparação ao ritmo produzido no tempo de reflexão profunda sobre como as nossas vidas são moldadas. À medida que a sociedade avança e se aprofunda em novos conhecimentos, é inevitável que paradigmas e conceitos repressores sejam desafiados e reinterpretados. Muitas vezes, o que pode parecer uma coincidência pode, na verdade, ser o resultado do acesso a informações científicas e à educação que moldam nossas experiências e escolhas.
Os valores que antes eram considerados inabaláveis podem se transformar, e
conceitos que pareciam eternos podem se dissipar à medida que novas ideias
emergem. Este processo de mudança é uma característica intrínseca da evolução
humana e nos desafia a adaptarmo-nos e a reconsiderar o que realmente importa
em nossas vidas.
Assim, ao considerarmos o
futuro da humanidade, é essencial pensarmos em como as decisões que tomamos
hoje, tanto em termos de ciência quanto de valores, impactarão o mundo que
deixaremos para os nossos descendentes.
Com estas mudanças, o acesso
a direitos que eram até pouco tempo privilégio para algumas pessoas passa a ser
acessado por várias camadas socioeconômicas da sociedade. Mudanças dos conceitos
e descoberta da sociedade de que a política do toma lá dá cá, a depender de
onde se pratica e como se pratica, não é ruim e pode ser aplicada na hora do
voto.
Então, o que tudo isto tem a
ver com falar de mortes maternas? Falar de mortes maternas, vamos ter que
abordar violência, determinantes sociais, autonomia, humanização das relações,
respeito, tolerância, emancipação, ganhos salariais, racismo, misoginia e
avaliar a prestação de serviços. Abordar essas questões pode levar a uma
redução significativa nas mortes maternas e a um sistema de saúde mais justo e
equitativo para todas as mulheres, além de contribuir para o entendimento da
emancipação das mulheres, permitindo-lhes participar plenamente nas decisões
que afetam suas vidas.
Por que tantos filhos? A
questão de ter muitos filhos é frequentemente envolta em uma série de
preconceitos e julgamentos que não consideram as complexidades da sociedade e
nem as motivações pessoais, sociais, culturais das pessoas e famílias.
O debate sobre os direitos
reprodutivos das mulheres tem se intensificado, sendo questionados à medida que
novos conceitos sobre a definição dos direitos das mulheres ganham destaque.
É preciso que conceitos emancipatórios tenham a compreensão mais abrangente da autonomia corporal, igualdade de gênero e acesso a cuidados de saúde de qualidade. Ao reconhecer que os direitos reprodutivos são fundamentais para a realização plena dos direitos humanos das mulheres, discute-se a importância de garantir acesso seguro e legal a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e aborto.
Além disso, Há que analisar sobre as barreiras culturais, religiosas, econômicas e legais que impedem as mulheres de exercerem com autonomia seus direitos reprodutivos.
Infelizmente, centenas de mulheres tem seu corpo violado por estupro. Esse é um tema profundamente complexo na sociedade e doloroso que demanda sensibilidade e empatia. A questão do estupro e da violência sexual é uma violação grave dos direitos humanos e deve ser abordada com seriedade e compaixão.
Quando a sociedade aplaude a decisão de uma mulher de continuar uma gravidez resultante de estupro, é essencial distinguir entre apoiar a coragem e a resiliência da vítima e, inadvertidamente, perpetuar uma cultura que minimiza a gravidade da violência sofrida.
A sociedade contemporânea promove frequentemente a ideia de que a liberdade sexual é o único caminho para a felicidade plena e a realização pessoal. No entanto, essa liberdade é muitas vezes acompanhada de um julgamento moral que afeta desproporcionalmente as mulheres. A moralidade sexual ainda é, em muitos aspectos, uma questão de controle social, onde normas tradicionais tentam ditar o comportamento feminino, perpetuando estigmas e preconceitos.
Falar sobre mortes maternas
e direitos sexuais e reprodutivos é crucial em qualquer idade, e minha
experiência e sabedoria de vida podem trazer uma perspectiva valiosa para essas
discussões.
Muitas vezes, mulheres mais
jovens se beneficiam da orientação e apoio de pessoas que já percorreram etapas
significativas de suas vidas.
Além disso, questões relacionadas dos direitos reprodutivos afetam mulheres de todas as idades e, ao abordar esses temas, estou contribuindo para a conscientização e mudança social.
O meu, o seu, o nosso envolvimento ao tema pode ajudar a promover políticas públicas mais eficazes e garantir que futuras gerações tenham acesso a cuidados de saúde adequados e direitos reprodutivos protegidos.
Continuar a
falar sobre esses assuntos mostra compromisso com a justiça social e a
dignidade humana, valores que não conhecem limites de idade.
2 comentários:
Muito bom Mônica, linda reflexão e contribuição para a sociedade! Viver a maternidade plena quando desejada e não sofrer e morrer por este motivo é um desafio pras mulheres!
Obrigado Sônia Lansk.
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