segunda-feira, 23 de junho de 2025

Autodeclaração ou apropriação? Respeite a identidade, organização e história das mulheres negras.

 
Pôr Mônica Aguiar  

Muitas pessoas que se identificam como brancas e depois se alto declaram negras podem ter ascendência africana ou indígena, mas suas características físicas, como tom de pele ou textura do cabelo, podem não refletir isso de maneira evidente. 

É importante reconhecer que a identidade racial não se limita somente ao fenótipo, mas também envolve aspectos culturais, históricos e pessoais. 
Como uma pessoa escolhe se identificar é um fenômeno complexo que na maioria das vezes é influenciado por uma variedade de fatores, incluindo o contexto social, político e cultural em que está inserida ou pretende se inserir.

Vários fatores podem moldar e até mesmo transformar a identidade de alguem, se, considerarmos o momento e como se coloca com as repercussões momentâneas.

No entanto, é importante saber que “apropriação” de uma identidade pode também ser o ato de adotar elementos de uma cultura por pessoas de outra cultura, muitas vezes sem compreender ou respeitar o contexto original, o que pode ser problemático.  

Em última análise, a identidade é uma escolha pessoal, mas é essencial promover o respeito e a compreensão das diversas experiências e identidades raciais.

A apropriação, quando se refere a elementos raciais, é complexa e frequentemente controverso.

É inadmissível naturalizar as atitudes de pessoas, que estão ligadas cultural e historicamente ao grupo racial dominante, que passam, em um passo de mágica, a adotar aspectos da população negra, especificamente das mulheres negras.

Isso se torna particularmente problemático quando essas práticas são tratadas como uma moda passageira, respostas e justificativas entre uma discussão ou moeda de troca, desconsiderando o contexto histórico e social de onde se originaram.  

E, quando essa apropriação é criticada, muitas vezes se revela o racismo subjacente, especialmente quando os elementos culturais são tratados como objetos descartáveis ou exóticos.

O debate se torna ainda mais caloroso quando se questiona quem tem o direito de decidir o que é apropriado ou não, exigindo uma reflexão cuidadosa sobre respeito, empatia e reconhecimento das injustiças históricas associadas. 

Uma justificativa que tenho observado e que está se tornando comum é que a adoção de tais elementos é uma forma de opinião, mas isso frequentemente ignora o poder e o privilégio inerentes nas dinâmicas raciais. 

A desmistificação do discurso da democracia racial no Brasil é essencial para compreender as estruturas de desigualdade racial que ainda persistem na sociedade.

A apropriação carrega veladamente a ideia de que o Brasil é uma democracia racial, sugere não haver discriminação racial significativa e que todas as raças convivem harmoniosamente. 

No entanto, essa narrativa mascara as profundas desigualdades e o racismo que afetam, desproporcionalmente, as populações negras, especialmente as mulheres negras. 

As tipificações pejorativas contra as mulheres negras são manifestações desse racismo, perpetuando estigmas e estereótipos que as desumanizam, relações, é opressor e provocam o silenciamento das mulheres negras.

Essas apropriações limitam as oportunidades de ascensão social e econômica e reforçam a discriminação em diversas esferas, como no mercado de trabalho, na educação, bem como a representatividade das mulheres negras em espaços de poder.

As mulheres negras,  que são militantes históricas e ativistas no combate ao racismo enfrentam um desafio constante de resistência e resiliência. 

Elas frequentemente se deparam com afirmações que tentam desqualificar suas experiências e lutas, tornando profundamente exaustivo colocar tais questões na mesa.

Isto é desqualificação. E vem disfarçada de críticas ou questionamentos aparentemente inofensivos, mas que, na verdade, têm a intenção de minar a legitimidade de nossas denúncias e conquistas.

Atualmente, o cansaço não é somente físico, mas também emocional e psicológico, pois lutar contra o racismo é uma batalha contínua que exige força e uma determinação imensa.

Afirmar que o debate sobre racismo, este tipo de apropriação provoca desgaste, é outro argumento perverso que, de fato, minimiza a importância crucial dessa discussão na sociedade contemporânea.

O racismo é uma questão estrutural que afeta profundamente a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, e ignorar ou diminuir a relevância de seu debate é perpetuar a desigualdade e a injustiça.

A questão da identidade racial é complexa e envolve uma compreensão profunda das experiências pessoais, sociais e culturais.

A identidade racial não pode ser simplesmente adotada ou descartada de forma instantânea.

Para muitas pessoas, reconhecer-se como parte de um grupo racial específico é um processo que pode ser profundamente influenciado por fatores como história familiar, aparência física, cultura, e experiências vividas.

No caso de alguém que nunca se viu como negro ou não é reconhecido socialmente como negro, tornar-se parte desse grupo envolve mais do que uma simples decisão pessoal; requer o reconhecimento e a validação da vivência e das experiências compartilhadas por aqueles que se identificam como negros.

Além disso, é importante lembrar que a identidade racial está enraizada em questões sociais e históricas, e a apropriação de uma identidade sem vivenciar suas realidades pode ser vista como desrespeitosa ou insensível.

 Assim, é essencial abordar essa questão com sensibilidade, responsabilidade e respeito, considerando as nuances e a profundidade que envolvem a identidade racial.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Por que é importante falar das mortes maternas, direitos e justiça reprodutiva na terceira idade?

Por Mônica Aguiar 

28 de maio. Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna

Chego aos meus 60 anos e muitas pessoas perguntam, Monica Aguiar, por que falar das mortes maternas, direitos sexuais e reprodutivos na idade em que você se encontra?

Por um instante, abaixo a cabeça, lembro exatamente o que passei para ter meus seis filhos. Levanto a cabeça, olho para frente e para os lados e percebo que muitas ainda passam igualmente por tudo que passei. São 37 anos do primeiro parto e 21 do último. Refletir sobre uma jornada de maternidade é um exercício poderoso de memória e resiliência. Criar seis filhos ao longo de quase quatro décadas não é somente uma prova de força física e compromisso contínuo. Cada geração tem suas próprias dificuldades, mas é impressionante como algumas experiências permanecem constantes.

Ao olhar ao redor, é possível ver outras mães que enfrentam batalhas semelhantes, cada uma com suas próprias histórias e desafios. Isso cria uma rede invisível de solidariedade e compreensão entre mulheres que, mesmo em tempos diferentes, compartilham a mesma essência ao ser mãe.

A questão da coincidência do destino em comparação ao ritmo produzido no tempo de reflexão profunda sobre como as nossas vidas são moldadas. À medida que a sociedade avança e se aprofunda em novos conhecimentos, é inevitável que paradigmas e conceitos repressores sejam desafiados e reinterpretados. Muitas vezes, o que pode parecer uma coincidência pode, na verdade, ser o resultado do acesso a informações científicas e à educação que moldam nossas experiências e escolhas. 

Os valores que antes eram considerados inabaláveis podem se transformar, e conceitos que pareciam eternos podem se dissipar à medida que novas ideias emergem. Este processo de mudança é uma característica intrínseca da evolução humana e nos desafia a adaptarmo-nos e a reconsiderar o que realmente importa em nossas vidas.

Assim, ao considerarmos o futuro da humanidade, é essencial pensarmos em como as decisões que tomamos hoje, tanto em termos de ciência quanto de valores, impactarão o mundo que deixaremos para os nossos descendentes.

Com estas mudanças, o acesso a direitos que eram até pouco tempo privilégio para algumas pessoas passa a ser acessado por várias camadas socioeconômicas da sociedade. Mudanças dos conceitos e descoberta da sociedade de que a política do toma lá dá cá, a depender de onde se pratica e como se pratica, não é ruim e pode ser aplicada na hora do voto.

Então, o que tudo isto tem a ver com falar de mortes maternas? Falar de mortes maternas, vamos ter que abordar violência, determinantes sociais, autonomia, humanização das relações, respeito, tolerância, emancipação, ganhos salariais, racismo, misoginia e avaliar a prestação de serviços. Abordar essas questões pode levar a uma redução significativa nas mortes maternas e a um sistema de saúde mais justo e equitativo para todas as mulheres, além de contribuir para o entendimento da emancipação das mulheres, permitindo-lhes participar plenamente nas decisões que afetam suas vidas.

Por que tantos filhos? A questão de ter muitos filhos é frequentemente envolta em uma série de preconceitos e julgamentos que não consideram as complexidades da sociedade e nem as motivações pessoais, sociais, culturais das pessoas e famílias.

O debate sobre os direitos reprodutivos das mulheres tem se intensificado, sendo questionados à medida que novos conceitos sobre a definição dos direitos das mulheres ganham destaque.

É preciso que conceitos emancipatórios tenham a compreensão mais abrangente da autonomia corporal, igualdade de gênero e acesso a cuidados de saúde de qualidade. Ao reconhecer que os direitos reprodutivos são fundamentais para a realização plena dos direitos humanos das mulheres, discute-se a importância de garantir acesso seguro e legal a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e aborto. 

Além disso, Há que analisar sobre as barreiras culturais, religiosas, econômicas e legais que impedem as mulheres de exercerem com autonomia seus direitos reprodutivos. 

Infelizmente, centenas de mulheres tem seu corpo violado por estupro. Esse é um tema profundamente complexo na sociedade e doloroso que demanda sensibilidade e empatia. A questão do estupro e da violência sexual é uma violação grave dos direitos humanos e deve ser abordada com seriedade e compaixão. 

Quando a sociedade aplaude a decisão de uma mulher de continuar uma gravidez resultante de estupro, é essencial distinguir entre apoiar a coragem e a resiliência da vítima e, inadvertidamente, perpetuar uma cultura que minimiza a gravidade da violência sofrida.

A sociedade contemporânea promove frequentemente a ideia de que a liberdade sexual é o único caminho para a felicidade plena e a realização pessoal. No entanto, essa liberdade é muitas vezes acompanhada de um julgamento moral que afeta desproporcionalmente as mulheres. A moralidade sexual ainda é, em muitos aspectos, uma questão de controle social, onde normas tradicionais tentam ditar o comportamento feminino, perpetuando estigmas e preconceitos.

Falar sobre mortes maternas e direitos sexuais e reprodutivos é crucial em qualquer idade, e minha experiência e sabedoria de vida podem trazer uma perspectiva valiosa para essas discussões.

Muitas vezes, mulheres mais jovens se beneficiam da orientação e apoio de pessoas que já percorreram etapas significativas de suas vidas.

Além disso, questões relacionadas dos direitos reprodutivos afetam mulheres de todas as idades e, ao abordar esses temas, estou contribuindo para a conscientização e mudança social. 

O meu, o seu, o nosso envolvimento ao tema pode ajudar a promover políticas públicas mais eficazes e garantir que futuras gerações tenham acesso a cuidados de saúde adequados e direitos reprodutivos protegidos. 

Continuar a falar sobre esses assuntos mostra compromisso com a justiça social e a dignidade humana, valores que não conhecem limites de idade.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

MULHERES REDEFINEM PAPEIS TRADICIONAIS

 Por Mônica Aguiar 

Nos últimos anos, observamos uma mudança significativa na dinâmica de gênero em diversas profissões que, tradicionalmente, eram dominadas por homens. Estudos recentes têm mostrado que as mulheres estão se destacando e assumindo posições de liderança.

As mulheres ao redor do mundo estão continuamente redefinindo papéis tradicionalmente atribuídos a elas, rompendo barreiras e desafiando normas sociais históricas.

Esse fenômeno é visível em áreas como a medicina, o direito, a engenharia e até mesmo na tecnologia da informação.

Eu acredito que essa transformação pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo maior acesso à educação superior e técnica, políticas mais ampla de igualdade de gênero e mudança de valores. Além disso, as mulheres têm demonstrado habilidades excepcionais em gestão, comunicação e inovação, o que as torna valiosas em qualquer equipe.

Esse cenário não apenas redefine os papéis tradicionais de gênero, mas também enriquece o mercado de trabalho com uma gama mais ampla de perspectivas e experiências. A necessidade de inclusão e ampliação no ambiente de trabalho, portanto, não é apenas uma questão de justiça social, mas também de aprimoramento organizacional e sucesso econômico a longo prazo.

A inclusão e ampliação da presença feminina no ambiente de trabalho são temas dos que buscam ampliação da economia.

Estudos mostram que a diversidade de gênero não só promove um ambiente de trabalho mais rico e inovador, mas também está correlacionada com melhores resultados financeiros. Ao integrar mulheres em todos os níveis hierárquicos, as empresas podem aproveitar uma gama mais ampla de perspectivas e habilidades, o que é essencial para enfrentar os desafios complexos do mercado atual.

Embora exista aumento dentro de vários espaços, ainda persistem desigualdades salariais  entre homens e mulheres. As mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens, mesmo quando ocupam posições equivalentes e possuem qualificações semelhantes.

Em 2024, as mulheres ganhavam, em média, 20,9% a menos que os homens, isso em empregos do setor privado e público. É o que aponta o 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em abril de 2025.

MÉDICOS

De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil (DMB), pela primeira vez, médicas são maioria entre os profissionais e no ensino de medicina.

Esta edição, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi realizada com o Ministério da Saúde. Em 2010, as mulheres eram 41% da população médica.

Hoje as mulheres representam 50,9% dos médicos no Brasil, porém as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas. O aumento da composição feminina na profissão é considerado expressivo.

As projeções indicam que, até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país.

Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023.

Entre as 55 especialidades regulamentadas no Brasil, sete concentram 50,6% do total de especialistas: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia/obstetrícia, anestesiologia,  cardiologia, ortopedia, traumatologia.

O estudo destaque que a parcela de especialistas (59,1%) em relação ao total de médicos está pouco abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%. (Fonte CNNBRASIL).

A predominância das mulheres na população brasileira, conforme indicado pelo Censo 2022, que aponta que elas representam 51,5% da população total, é um dado significativo que pode influenciar diversas áreas da sociedade. 

Este equilíbrio demográfico levanta questões importantes sobre a representação feminina em diferentes esferas, como no mercado de trabalho, na política e na educação.  Além disso, a presença majoritária feminina pode impactar políticas públicas, direcionando-as para atender melhor às necessidades das mulheres, como em questões de saúde, segurança e igualdade de oportunidades.

É fundamental reconhecer essa maioria não apenas destaca a importância das mulheres na construção social e econômica do país, mas também ressalta a necessidade de promover a igualdade de gênero e a inclusão em todos os níveis.

ESTUDO

As mulheres são maioria nas faculdades no Brasil. Elas representam 59.01% das matrículas no ensino superior, com cerca 10 milhões de matrículas. Este número é maior quando consideramos a conclusão dos cursos de graduação, chegando a 60,3% em 2022.

CHEFIA DE LARES

As mulheres são praticamente a metade de chefes de domicílio no Brasil. De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, as mulheres são responsáveis por 40,2 milhões de lares. O IBGE aponta que o percentual de lares com responsáveis femininas ultrapassa os 50% em 10 estados.

As mudanças na dinâmica familiar e o crescente número de mulheres qualificadas têm desempenhado um papel crucial na transformação da percepção sobre o papel das mulheres no ambiente de trabalho.

Com mais mulheres buscando educação superior e se especializando em diversas áreas, há um aumento significativo na presença feminina em setores anteriormente dominados por homens.

Essa evolução não só desafia estereótipos de gênero, mas também amplia as oportunidades para as mulheres assumirem posições de liderança e influência. Além disso, a dinâmica familiar moderna, que muitas vezes envolve uma abordagem mais equilibrada na divisão de responsabilidades domésticas e cuidado dos filhos, permite que as mulheres se dediquem mais às suas carreiras.

Essa transformação cultural está se refletindo em políticas corporativas mais inclusivas e em um mercado de trabalho que reconhece e valoriza a diversidade de gênero como um ativo essencial para a inovação e o crescimento econômico.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Benedita fala sobre Santíssima Trindade ter nome publicado na Portaria MCID Nº 366

 Por Mônica Aguiar 

Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do
 Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade
 

  Hoje, vou conversar com Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade, integrante do Coletivo Coordenadoras Unidas, 
é uma das sete entidades de Minas Gerais  que teve o nome publicado na PORTARIA MCID Nº 366, DE 11 DE ABRIL DE 2025.

O programa Minha Casa Minha Vida Entidades é uma iniciativa do governo federal brasileiro que visa facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda. Através da modalidade Entidades, organizações da sociedade civil podem atuar como intermediárias, auxiliando grupos de famílias a acessar linhas de financiamento para a construção de suas casas. Este modelo permite que as famílias participem ativamente do processo, desde o planejamento até a execução das obras, promovendo não apenas o acesso à moradia, mas também o fortalecimento do senso de comunidade e a autogestão. Além disso, a modalidade Entidades busca garantir que os projetos habitacionais sejam sustentáveis, respeitando as particularidades de cada região e promovendo o desenvolvimento social e econômico local. Com isso, o programa contribui significativamente para a realização do sonho da casa própria, transformando a vida de milhares de famílias brasileiras.

Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade  é uma entidade de luta por moradia e foi fundada em 1986.  O Projeto Sonho e Esperança, idealizado por Benedita, é uma iniciativa notável que busca proporcionar moradia digna através da autogestão organizativa das  famílias associadas. Este projeto se destaca por promover a participação ativa das famílias na gestão de suas próprias habitações, criando um senso de pertencimento e comunidade.

 Através de workshops, reuniões e colaborações, as famílias são capacitadas a tomar decisões coletivas sobre o desenvolvimento e manutenção dos espaços habitacionais. Além de oferecer uma solução prática para a questão da moradia, o projeto também visa fortalecer laços comunitários e incentivar a solidariedade entre as pessoas  participantes. Dessa forma, a iniciativa não só trabalha para suprir uma necessidade básica, mas também para transformar a vida das pessoas envolvidas, promovendo um futuro mais justo.

Eu perguntei a Benedita : Quando vc iniciou o projeto?

Benedita: O programa Minha Casa Minha Vida, criado para facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda, teve suas operações afetadas por diversos fatores ao longo dos anos. O chamamento de 2013, foi uma oportunidade importante para muitas associações que buscavam oferecer moradias dignas aos seus membros. 

O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 trouxe instabilidade, impactando a continuidade e o financiamento de muitos programas sociais, incluindo o Minha Casa Minha Vida. A busca por alternativas e soluções para esses desafios continua sendo essencial para garantir que programas habitacionais cumpram seu objetivo de reduzir o déficit habitacional no Brasil.  

Assim que foi publicado em 2013, o primeiro chamamento do Minha Casa Minha Vida entidades, eu encontrei neste programa uma alternativa para atender as famílias que fazem parte da minha associação. Em 2014 eu me escrevi no Programa e obtive 500 moradias e não foi construída por falta do terreno.

O que te motivou a manter o projeto?


Benedita: Com a eleição do Lula , a Politica de Habitação voltou e novamente e, eu fiquei motivada em cadastrar a minha Associação no Programa Nacional Minha Casa Minha Vida entidades. O processo de conseguir terreno para construção através de programas públicos pode ser bastante desafiador, especialmente quando esbarra em questões legais e burocráticas. É compreensível que a negativa da PBH/URBEL em liberar o terreno tenha sido um obstáculo significativo. Contudo, o apoio de profissionais experientes como Cláudia Pires pode ser um diferencial importante. Ela, com sua experiência em movimentos de moradia, possui o conhecimento e as habilidades necessárias para navegar por esses desafios. Além disso, é crucial continuar buscando apoio de outros órgãos públicos e explorar alternativas, como parcerias com o setor privado ou a busca por legislações que possam ser propostas para facilitar esse tipo de doação no futuro. O importante é não perder a esperança; o trabalho em equipe e a persistência abrem novos caminhos para transformar este sonho em realidade.

Vc percebe ausência em políticas pública da habitação em BH com relação as associações de luta por moradia?

Benedita: - Sim, percebo. A necessidade de ampliação das políticas públicas de habitação é um tema crucial, especialmente quando se trata de atender famílias que há anos aguardam suporte por meio de associações cadastradas na URBEL. Estas associações, que operam de maneira legal e têm um histórico de contribuição social, enfrentam desafios significativos devido à falta de critérios universais claros que definam a relação com a URBEL. 

É imperativo que o conselho municipal de habitação estabeleça diretrizes transparentes e equitativas para assegurar que essas famílias recebam a assistência necessária. 

A criação de tais critérios não só beneficiaria as famílias, mas também fortaleceria o papel das associações na sociedade, garantindo que seu trabalho seja reconhecido e continuado de forma eficaz. A implementação de políticas claras e justas pode transformar a realidade de muitas pessoas, promovendo um acesso mais igualitário à moradia digna.

Qual sua perspectiva ?

Benedita: - O meu compromisso é ajudar na redução do déficit habitacional em Belo. Buscar alternativas e mecanismos de atendimento é crucial, especialmente para famílias trabalhadoras de baixa renda. 

Construir uma proposta de contrapartida financeira por parte do Município é uma excelente estratégia para diminuir o custo final das obras, tornando a moradia mais acessível. Além disso, é fundamental criar políticas de proteção para famílias que vivem de favor ou aluguel, pois essas estão organizada dentro da associações e em situação de vulnerabilidade. 

Manter o foco em ajudar famílias de associações que compartilham a mesma missão e que demonstram organização e trabalho sólido é fundamental para ampliação do Projeto. Ajudar a fortalecer as associações podendo criar uma rede de apoio mais robusta, garantindo melhores condições de vida para um número maior de pessoas associadas.

É importante continuar dialogando com o poder público para buscar apoio e parcerias que possam fortalecer ainda mais essa iniciativa.

Quais foram as principais dificuldades encontradas?

Benedita:- Organizar as famílias com o perfil sócio econômico e renda conforme determina a Caixa Econômica Federal  é um dificultador. Conseguir encontrar e comprar o terreno é difícil. Convencer o dono do terreno que aguarde o tempo de tramitação burocrática do Ministério da Cidades e Caixa Econômica federal é muito difícil. Juntada de documentos, comprovações de legalidades e cumprimento dos prazos no tempo determinado pelos órgãos envolvidos  é muito difícil. Fazer com que as famílias  entendam a importância da autonomia da gestão financeira para execução do projeto desde o inicio é muito difícil. Aguentar criminalização, critica infundadas, desqualificação, discriminação, não é fácil.  Encontrar alguém com responsabilidade social como eu encontrei na arquiteta Cláudia Pires total solidariedade, responsabilidade e compromisso para ser a responsável técnica do Projeto não é uma tarefa fácil.

Eu digo o seguinte :

O Núcleo Santíssima Trindade, sob a liderança de Benedita, destacou-se no processo seletivo instituído pela Portaria MCID nº 862, de 4 de julho de 2023, não apenas por sua capacidade de concorrer e conquistar a contratação, mas também por sua organização independente. Esta associação em Belo Horizonte se diferencia por sua trajetória autônoma, fruto de anos de dedicação e empenho na luta por habitação digna. A experiência acumulada ao longo dos anos confere à associação uma posição de destaque, demonstrando que a mobilização comunitária e a gestão eficiente podem gerar resultados significativos mesmo sem a colaboração de outras entidades. Essa conquista reflete uma combinação de perseverança, conhecimento e compromisso com a causa habitacional, servindo como inspiração para outras organizações que buscam fazer a diferença em suas comunidades.


Benedita é verdadeiramente uma inspiração para muitos. Sua participação ativa em diversos conselhos de políticas públicas demonstra seu comprometimento em promover mudanças significativas na sociedade. Como uma mulher engajada na luta pela igualdade, Benedita dedica-se a combater o machismo e a promover um ambiente mais justo e inclusivo para todas as pessoas. Sua voz é poderosa e ressoante, levantando questões cruciais sobre a necessidade de se desconstruir estereótipos de gênero e de se construir uma sociedade onde todos tenham as mesmas oportunidades. Ao se posicionar contra as injustiças e ao trabalhar incansavelmente por um mundo mais igualitário, Benedita não apenas defende seus próprios direitos, mas também os de futuras gerações. Seu exemplo encoraja outras mulheres a se unirem à luta pela igualdade e a continuarem a desafiar as normas sociais que perpetuam a desigualdade de gênero.



segunda-feira, 14 de abril de 2025

Vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras


Por Mônica Aguiar 

A vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras é uma questão complexa e multifacetada que reflete desigualdades históricas. No Brasil, as mulheres negras enfrentam diversas dificuldades de acesso a oportunidades econômicas, devido ao legado do racismo e do patriarcado que permeia o sistema politico, estruturas de governos e econômicas.

É notório e estou percebendo a naturalização por parte dos poderes ao avaliar as posições de trabalho informais ou de baixa remuneração, com menos acesso a benefícios como licença maternidade e aposentadoria das mulheres negras.

As mulheres negras enfrentaram barreiras adicionais devido ao racismo, sendo frequentemente relegadas a trabalhos mal remunerados e sem direitos trabalhistas.

A maldita herança histórica contribuiu para a manutenção das desigualdades econômicas e sociais, onde a maioria ainda ocupa os degraus mais baixos da escala econômica. A falta de acesso aos direitos fundamentais continua a ser um obstáculo significativo, que reforça o ciclo de pobreza e exclusão.

Esta desigualdade econômica, onde a ampla maioria são mulheres negras já deveria ter sido encarrada pelo Brasil com ações verdadeiramente reparatórias.

Todos sabem muito bem que durante uma crise econômica, as mulheres frequentemente enfrentam um impacto desproporcional no mercado de trabalho. Elas tendem a perder mais empregos formais em comparação aos homens.

Além disso, as responsabilidades domésticas e de cuidado, que já são desigualmente distribuídas, aumentam para as mulheres durante períodos de instabilidade.

Com baixa remuneração, dependendo apenas dos recursos de transferência de renda de governos as tarefas, que incluem cuidar de crianças, idosos e a gestão do lar, sobrecarregam ainda mais seu tempo e energia, dificultando a busca por novas oportunidades de emprego ou a manutenção de seus empregos atuais.

Essa dinâmica não apenas exacerba desigualdades de gênero preexistentes, mas também retarda a recuperação econômica geral, já que metade da população enfrenta barreiras adicionais para contribuir plenamente com o crescimento econômico.

As questões analíticas avaliadas como subjetivas representam um desafio significativo na vida das mulheres negras, pois frequentemente são permeadas por preconceitos implícitos e estereótipos raciais.

Essas análises, muitas vezes, desconsideram as experiências e perspectivas únicas das mulheres negras, resultando em avaliações injustas que impactam suas oportunidades acadêmicas e profissionais.

A subjetividade pode levar à desvalorização de suas contribuições e habilidades, perpetuando desigualdades de gênero e raça.

É essencial reconhecer que, se as mulheres negras enfrentam uma falta de qualificação suficiente, isso é reflexo das desigualdades “estruturais” que persistem na sociedade. Repensar as medidas tomadas para diminuir essas desigualdades econômicas é crucial para garantir que todos tenham oportunidades justas de desenvolvimento.

Os programas de transferência de renda têm sido alvo de debates quanto ao seu impacto nas mulheres em situação de vulnerabilidade.

Embora esses programas forneçam um alívio financeiro crucial a curto prazo, eles nem sempre resultam em um aumento significativo e sustentável na capacidade econômica de compra das mulheres. Em muitos casos, a assistência recebida é suficiente apenas para atender às necessidades básicas, sem proporcionar oportunidades para investir em educação ou capacitação profissional, essenciais para romper o ciclo de pobreza.

Além disso, se não forem acompanhados de políticas complementares que promovam a inclusão no mercado de trabalho e a igualdade de gênero, esses programas podem, inadvertidamente, perpetuar a dependência econômica e a vulnerabilidade.

 Portanto, é fundamental que as políticas públicas integrem estratégias mais abrangentes que visem empoderar as mulheres, promovendo sua autonomia e participação ativa.

E a falta de leituras e análises aprofundadas sobre esse tema significa que muitas dessas questões ficam invisíveis ou subvalorizadas, dificultando a implementação de políticas eficazes e inclusivas. É essencial que pesquisadores, formuladores de políticas e a sociedade em geral reconheçam e abordem essas interseções para promover uma mudança real para  mitigar essa vulnerabilidade.

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