segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mulheres são excluídas de participar do concurso público da PM


Após dois anos reservando espaço para elas, corporação volta atrás e exclui candidatas de seleção para 6 mil vagas em janeiro


por Aline Salgado 
Francisco E. aves 


As mulheres estão prestes a perder espaço na Polícia Militar. O próximo concurso para soldado da corporação, que será aberto em janeiro, com previsão de 6 mil vagas, apenas para homens. A medida interrompe um ciclo na PM em relação à figura feminina na corporação.

Dados das últimas seleções para soldado mostram aumento na participação feminina. Em 2009, foram abertas 200 vagas para elas — 5% do total. Já em 2010, o número mais que dobrou: 800 postos oferecidos (22%), sendo que 1.500 acabaram convocadas.

Segundo o chefe do Centro de Recrutamentos e Seleção de Praças da PM, tenente-coronel Roberto Vianna, o grande rigor físico exigido para o cargo de soldado é a justificativa para que as mulheres sejam excluídas desta seleção.

Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
Para o diretor pedagógico da Academia do Concurso, Paulo Estrella, a falta de estudos biométricos e de capacidade de carga dos equipamentos, no entanto, estaria atrapalhando a inserção delas na PM.  

“O problema, segundo me relatou o tenente-coronel Vianna, é que a carga de equipamento que cada soldado transporta no treinamento e no dia a dia inviabilizaria a participação de mulheres. O que a PM se propôs a fazer, segundo ele, é desenvolver um estudo do limite de carga para as mulheres para tentar conciliar a necessidade da atividade com o limite físico feminino”, afirma Estrella.

Mulheres da corporação estão indignadas. “É um absurdo. As mulheres comprovaram na prática que a PM precisa dos nossos trabalhos. Somos fundamentais, principalmente nas comunidades com UPPs, porque conseguimos fazer muito bem esse trabalho de polícia de proximidade. Temos um olhar diferenciado sobre a comunidade”, argumentou uma tenente de 30 anos.

Uma colega de profissão morreu num ataque na Nova Brasília, no Alemão, em julho. A soldado Fabiana Aparecida de Souza, 30, levou tiro no peito e não resistiu.



Tema divide especialistas em segurança e saúde

Especialistas em segurança e saúde divergem sobre o assunto. “O rendimento intelectual das mulheres é superior. No último concurso, dos 10 primeiros colocados, seis eram mulheres. Mas elas também têm mostrado valor operacional, principalmente nas UPPs”, comentou o coordenador de Comunicação da PM, coronel Frederico Caldas.

“Concordo (com a decisão da PM) em parte. Mas elas têm vida profissional mais eficaz quando exercem cargos de chefia, de comando”, opina o coronel Mário Sérgio Duarte, ex-comandante-geral da PM.

Paulo Storani, antropólogo, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), consultor de segurança e pós-graduado em Gestão de Recursos Humanos, que comandou a primeira turma de oficiais femininas em 1983, acha que as PMs ‘são capazes e já conquistaram seu espaço na corporação’. “É irreversível. Essa decisão é momentânea”, ressaltou.

Altamiro Bottino, fisiologista do Botafogo, que avalia o funcionamento corporal dos jogadores, por sua vez, é enfático. “É uma decisão acertada. Não é uma avaliação machista, mas realista. Os homens têm, em média, entre 10 e 15 kg de massa muscular a mais que as mulheres, e sete quilos a mais de estrutura óssea. Isso faz muita diferença”.

No efetivo há 30 anos

A PM do Rio instituiu o primeiro efetivo feminino há 30 anos, em 17 de março de 1982. Eram 158 alunas do Curso de Formação de Soldados, que atuavam em pontos turísticos, trânsito, hospitais e em ocorrências com mulheres, crianças e adolescentes. Hoje, há mais de 2,9 mil mulheres na corporação.

Para X., uma soldado de 24 anos que pediu anonimato, que isto seria uma forma de preconceito na PM. “Há espaço para todos, seja no serviço operacional ou administrativo. Não deveriam olhar o gênero, mas, sim, a aptidão e a dedicação do policial”, disse.

Y., 22, outra soldado, acha que as mulheres têm tanta competência para atuar na PM quanto os homens. “Muitas ocupam postos de comando e são respeitadas. O problema da falta de preparo não é pelo fato de ser mulher, mas pela formação, que não é adequada para atuar em áreas conflagradas”.


Fonte : O Dia 


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