quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cenário de preços reduzidos e crescimento para 2012

Carta de Conjuntura apresenta e analisa dados do 3º trimestre de 2011 e faz projeções para o próximo ano
A inflação está controlada no Brasil, uma boa notícia, apesar de seus vilões frequentes: os preços de serviços (como água, luz, gás) e transportes, por conta da contaminação do aumento do preço dos combustíveis, ocorrido em trimestres anteriores. “É apenas um reflexo da política monetária corretamente adotada anteriormente”, afirmou Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, durante a apresentação da 15ª Carta de Conjuntura, na última quinta-feira, 15, no Rio de Janeiro. A outra boa notícia presente no documento é a desaceleração do repasse da alta dos preços no atacado aos preços ao consumidor. Tudo indica que nos próximos meses ocorrerá uma desinflação, por conta das políticas adotadas pelo Banco Central na atual gestão.
Apesar dos dados divulgados recentemente pelo IBGE – Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento nulo entre o segundo e o terceiro trimestres de 2011 –, o Brasil apresentou crescimento positivo e dentro do esperado ao longo do ano. “Mesmo que este último trimestre apresente crescimento zero, na média anual o crescimento seria da ordem de 2,8% a 3,0%, mas esperamos chegar aos 3,3%”, disse o economista Leonardo Carvalho, membro do GAP e um dos colaboradores da Carta de Conjuntura.
O resultado do PIB no terceiro trimestre, o pior desde o primeiro trimestre de 2009, significou uma forte desaceleração em relação ao período imediatamente anterior, quando o mesmo havia crescido 0,7%. As medidas macroprudenciais adotadas em dezembro de 2010 tinham como principal objetivo conter o ritmo de crescimento da economia, diagnosticado como excessivo, diante da deterioração da inflação e do cenário favorável no mercado de trabalho – com a manutenção do rendimento médio real em patamares elevados e dos baixos níveis de desocupação registrados.
Entre o terceiro e o segundo trimestres de 2011, a contenção do ritmo de crescimento da atividade econômica atingiu, principalmente, a indústria (-0,9%) e, secundariamente, o setor de serviços (-0,3). A agricultura, por sua vez, foi o único setor a registrar crescimento positivo (+3,2%), em função do aumento do acesso ao crédito no terceiro trimestre.

Desalinhamento

Segundo Messenberg, a crítica à atual política econômica se deve à histórica falta de alinhamento entre as políticas fiscal e monetária. Numa perspectiva histórica, declarou o coordenador, “o Plano Real foi uma boa tacada, mas deixou sequelas que sofremos até hoje”. Messenberg fez uma comparação da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso com a trajetória do personagem de Paul Newman no filme The Hustler (Desafios à Corrupção), do cineasta norte-americano Robert Rossen. “Tínhamos, então, uma política econômica sem personalidade. O personagem do filme, como a política econômica daqueles anos, torna-se um grande jogador internacional, mas sem crescimento – no caso do Brasil, econômico, e no caso do personagem, emocional.”
O desenvolvimento econômico no Brasil só ocorreu de fato, segundo Messenberg, após as políticas adotadas durante o governo Lula, e que se estendem até hoje, com o governo atual, principalmente com gestão do Banco Central. Nesse sentido, acrescentou, “a política econômica não deve olhar só para as metas de inflação, mas fazer como se faz hoje, analisar as trajetórias dos preços dos ativos, da inflação, do emprego, dos níveis do crédito e de atividade, entre outras variáveis.” De acordo com o coordenador, “ainda levará tempo para que a política fiscal ajuste-se à condução da monetária, mas estamos no caminho correto e não há nada nele que possa assustar os trabalhadores ou os consumidores”.


Fonte : IPEA

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