quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Crises causadas por falta de democracia e apetência de potências estrangeiras

Angop
Historiador Jean Martial Arséne Mbah
Historiador Jean Martial Arséne Mbah
Luanda- O historiador Jean Martial Arséne Mbah defendeu hoje (terça-feira), em Luanda, que as crises em África são causadas por factores internos (falta de democracia) e externos  interesses das potências estrangeiras na espoliação das riquezas do continente.
Entrevistado pela Angop para aflorar a actual situação politica e económica do Continente, a fonte sustentou que na altura das independências africanas na década de 60 do século XX, havia uma certa democracia nos países francófonos, como experiência trazida pelos adventos do pós segunda guerra mundial.
Lamentou que essa democracia tenha sido abolida pela França do general Charles De Gaulle, a partir de 1958, que não tolerava o sistema multipartidário nas suas possessões africanas, instalando governos que tinham legitimidade estrangeira, daí os golpes de Estado no Togo, Mali, e noutros países, onde foram derrubados os pais das independências.
Frisou que situação similar se viveu com a morte do presidente Léon Mba, no Gabão, em 1967, tendo a França optado pelo então vice-presidente do país, Omar Bongo.  
   “É nessa fase que se instaura os partidos únicos em todo continente africano”, lamentou o também professor de Metodologia e Investigação da História Africana do Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) e Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.
Acrescentou que também que foi um período excepcional no continente pelo facto dos partidos únicos, então existentes, serem incapazes de resolver os problemas sociais e económicos dos seus povos.
Por isso, com o surgimento de crises políticas no leste europeu, nos anos 80, e a consequente queda do comunismo, regressou-se, outra vez, ao pluralismo político em África, “o que forçosamente não significou a entrada do continente numa era democrática ou a instalação da democracia”, disse.
“A democracia para mim é o exercício do poder pelo povo, é um sistema no qual as populações devem participar na gestão dos assuntos públicos como actores e não telespectadores”, enfatizou Jean Mbah. 
Para o docente universitário, registou-se nessa fase uma mudança de atitude das potências estrangeiras em relação aos países africanos, a França que não apoiou o processo de democratização no continente, foi obrigada acompanhar a criação do sistema multipartidário impulsionado pelos Estados Unidos, com base nos seus interesses.
De acordo com o historiador os Estados Unidos não defendiam que a África fosse democrática, mas com o fim da guerra-fria os americanos queriam ocupar o terreno deixado pelos soviéticos e a “França que acompanhava o processo conseguiu que fossem derrubados os líderes que se opunham a sua política no continente”.
É assim que perderam o poder Moussa Traoré, do Mali, Didier Rastiraka, no Madagáscar, Denis Sassou Nguesso, no Congo, Mathieu Kerekou, no Benin, entre outros.
A influência francesa foi mais notória no caso do Congo que depois da eleição de Pascal Lissouba, este foi derrubado quando tentou modificar os interesses petrolíferos da França.
Situação similar, segundo a fonte, ocorreu recentemente na Côte d'Ivoire, com o presidente Laurent Gbagbo, que foi apeado no poder por tentar alterar as relações do neocolonialismo naquele país da Áfria do oeste.


Fonte: ANGOP

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